ESTUDO

A Doutrina sobre a Volta de Cristo.
1a Pergunta: Pastor o que Sr. pensa a respeito da volta de Jesus? Ele voltará? E como se dará isso? 
Resposta: Sim com certeza; e isso constitui-se a base da nossa fé. Aliás é um dos pilares da fé cristã. Todos os grupos cristãos, todas as denominações, todos os credos cristãos comungam com essa verdade, e podemos dizer  que é essa verdade que nos separa de outras religiões que não são cristãs, algumas que dizem acreditar em Jesus, mas declaram à fé na reencarnação, por exemplo. Os cristãos diferentes, creem na volta de Jesus, desde os primórdios da Igreja. Por isso ela faz parte da cristandade. No primeiro concílio da igreja, no qual reuniu bispos e presbíteros em 318, a verdade da fé já declarava a crença na volta gloriosa de Cristo, conforme o texto em latim: "Ex María Vírgine, et homo factus est.Crucifíxus étiam pro nobis sub Póntio Piláto;Passus, et sepúltus est,Et resurréxit tértia die, secúndum Scriptúras,Et ascéndit in cælum, sedet ad déxteram Patris.Et íterum ventúrus est cum glória,Iudicáre vivos et mórtuos,Cuius regni non erit finis".
2a Pergunta: Quais os textos da Bíblia que relatam a volta de Jesus? 
Resposta: Temos vários textos, mas um só já seria o bastante. Quando Jesus fez seu último discurso, ele exortou seus ouvintes, 'não se turbe o vosso coração, crede em mim, crede também em Deus, na casa de meu pai tem muitas moradas, e eu vou para preparar-vos lugar e quando assim tiver feito voltarei para vos buscar para onde estiver vós e estareis também', segundo João 14,6. As parábolas das dez virgens em Mateus 25 de forma alegórica Jesus fala a respeito de um casamento, de umas bodas; essas bodas, dizem sobre a volta de Cristo. Também Jesus fala a respeito das ovelhas e dos bodes, que ambos estarão diante de Jesus; a parábola do joio, etc. Todas apontam para a vinda de Jesus como algo literal. 
3a Pergunta: Por que  literal? O que significa isso?
Resposta. Há uma crença no meio cristão de que a volta de Cristo acontece no momento da morte da pessoa. Isso não se sustenta, pois não há nenhum texto sagrado que demonstre isso... Então quando falamos da vinda literal é para reforçar, que a volta de Cristo vai acontecer de fato, do modo como descreve os textos. Embora sobre isso haja coisas que não podem ser interpretadas ao "pé da letra", por exemplo as ovelhas e os bodes que ficarão um a esquerda e outro grupo à direito. O que nos importa é que ele voltará e virá tal como disse.  Não na ocasião da morte, mas no fim do mundo, sim.
4a Pergunta: Há alguns grupos que dizem que Jesus voltará de duas maneiras, uma visível e outra invisível... Como o Sr.  justifica isso?
Resposta: Não há como justificar. Sobre os acontecimentos escatológicos, existem dois pensamentos, os que eu os chamo de juízos categóricos e juízos hipotéticos. Não há nenhuma expressão na Bíblia que diga: Jesus voltará invisivelmente. Essa expressão é uma ilação, ou seja uma dedução. O problema é que alguns grupos cristãos, fazem dessa ilação uma verdade absoluta, uma verdade plena. Por isso é preciso se inteirar, existem algumas coisas que apenas constituem em juízos, mas hipotéticos... 
5a. Pergunta: O Sr. poderia dar um exemplo sobre os juízos hipotéticos e categóricos. 
Resposta: Um juízo categórico: a volta de Jesus. Isso é fato, uma verdade. Não podemos discutir. Ele virá. No dia de sua volta vão acontecer duas coisas, a primeira, a ressurreição dos mortos, mas dos mortos que morreram em Cristo, os vivos que estarão nessa ocasião serão transformados e junto com o mortos ressuscitados serão arrebatados para estarem pra sempre com o Senhor. Esses enunciados, os textos são categóricos. Agora quanto a ressurreição dos que não morreram em Cristo e o que vai acontecer com os vivos ímpios pela ocasião da volta de Cristo, os textos são vagos, e por isso são juízos hipotéticos. 
6a Pergunta: O Sr. poderia expor isso de modo prático...
Resposta: Vamos começar pelo livro de João capítulo 5,24, Jesus diz que aquele que ouve sua palavra tem a vida eterna, não passará pelo julgamento, mas passará da morte para à vida. Jesus falou de uma vida eterna, falou a respeito de um julgamento, e de morte. Falou que aqueles que ouvem e creem na sua palavra não vão ao julgamento; mas passarão da morte para a vida. Jesus não falou de ressurreição, mas, de um julgamento e de uma vida eterna. E sobre esse julgamento, os crentes não passarão por ele. Mais adiante, quando Jesus esteve com a Marta na ocasião da morte de seu irmão Lázaro, observem o que ela disse: "sei que meu irmão há de ressuscitar,  na ressurreição do último dia" (João 11, 24). Pelo visto, Marta já tinha uma ideia a respeito da ressurreição, e que esta aconteceria no último dia. Que dia?... Precisamos ir até o apóstolo Paulo... Ele escreve, a respeito dos que dormem, ou seja, dos que morreram, não era para que ninguém se entristecesse, 'se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também, os que morreram em Jesus, Deus há de levá-los em sua companhia...' Ele diz 'os que morreram em Jesus'. No mesmo texto o apóstolo traz outras contribuições, acrescenta: 'que os vivos que estiverem aqui, pela ocasião da Vinda do Senhor, não passaremos à frente dos que morreram'. Paulo estabelece uma lógica, 'Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro'. Observem que Paulo usa a expressão 'Vinda do Senhor' - na ocasião os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro, depois, em seguida nós, os vivos os que estivermos  lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro do Senhor, nos ares. A lógica é a) A Vinda de Jesus é certa; b) Na ocasião os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; c) depois os vivos na ocasião serão arrebatados para estarem com o Senhor. A "Vinda de Jesus" é pois, o último dia do qual a Marta se referiu. Ela disse que o seu irmão Lázaro iria ressuscitar no último dia. Logo, este último dia associado as palavras de Paulo, concluímos que é o dia da Vinda de Jesus. Isso constitui-se em "juízos categóricos". Paulo termina o texto nos exortando a nos confortamos com suas palavras. Segunda coisa, quanto aos ímpios mortos e impios vivos na ocasião dessa Vinda, Paulo pelo menos aqui não mencionou nada. Mas, insiste ainda sobre a ressurreição, Paulo em I Coríntios 15 - ele diz que Jesus foi o primeiro a ressuscitar, depois nós, ou àqueles que pertencem a Cristo, na ocasião de sua Vinda (v.23). Depois desses acontecimentos, ele diz 'haverá o fim, quando ele entregar o reino a Deus Pai...'(v.24). No contexto, Paulo vai dizer a repeito dos vivos em Jesus na ocasião da sua volta: 'eis que vos dou a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num instante, num abrir, ao som da trombeta final... os mortos ressuscitarão e nós seremos transformados...' (v.52-53). Ele repete a lógica, primeiro a ressurreição dos mortos em Jesus, depois, nós seremos transformados', e podemos concluir subiremos para Jesus. 
7a Pergunta: O Sr. falou que os textos que tratam sobre a ressurreição dos ímpios e dos impios vivos são vagos, mas o senhor pode nos explicar, o que vai acontecer com os mesmos?
Resposta:Vamos começar pelo texto no qual o Senhor fala da condição daqueles que esperam por ele: E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus. Apocalipse 19:9. 
Agora vamos analisar o seguinte texto: 

1. O diabo vai se amarrado por mil anos: E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos.  E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois importa que seja solto por um pouco de tempo.
2. Um grupo de pessoas reinarão por mil anos. Com certeza serão os crentes fiéis. Esse período pode ser o mesmo que os mil anos nos quais o diabo estará preso: E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.
3. Aqui aparecem a expressão "outros mortos". Podemos aqui pensar que se trata dos impios. Logo já temos uma resposta sobre o que vai acontecer com eles na ocasião da volta de Jesus. Pelo visto permanecerão mortos:  "Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram". Os outros mortos não reviveram, pelo visto na ressurreição que os crentes hão de participar na ocasião da volta de Cristo. Portanto, já temos aqui uma resposta, os impios mortos não vão ressuscitar na ocasião da Volta de Cristo, mas no fim do milênio. Logo, podemos concluir que, quando Jesus voltar dar-se também o período de mil anos. 
4. O texto seguinte reforça o enunciado acima. A primeira ressurreição é a ressurreição dos justos, por isso bem aventurados são estes... Mas por que? Por que sobre eles a segunda morte não tem poder. Mas o que é essa segunda morte? : Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos. Estes mil anos são os mesmos nos quais o diabo permanecerá preso. 
5. Fim do"milênio" o diabo ficará solto. "E, acabando-se os mil anos, Satanás será solto da sua prisão, E sairá a enganar as nações que estão sobre os quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, para as ajuntar em batalha. E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade amada; e de Deus desceu fogo, do céu, e os devorou". Após os mil anos, observem, que satanás vai investir sua última batalha, e ele será destruído pelo próprio Deus. 
6. Sentença final sobre o diabo: E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.
7. O último juízo. Este acontece na sequencia no final do milênio. Pelo visto os mortos sem Jesus, finalmente ressuscitarão para serem julgados: "E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte". No item quatro eu deixei no ar sobre o que seria essa segunda morte... Eis a resposta: os impios ressuscitarão para serem julgados e após isso serão condenados à morte eterna.  E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo. 
Apocalipse 20:1-15. 
Obs. Podemos concluir que, satanás ficará preso por cadeias circunstanciais, pois, não haverá ninguém para tentar.
8a Pergunta: Muito bem pastor... Mas quanto ao dia da Volta de Cristo, há alguma previsão? É possível estabelecer datas? 
Resposta: Não é possível estabelecer nenhuma data. Alguns já tentaram, mas tudo não passou de engodo e sensacionalismo. O próprio Cristo disse não saber e nenhum os anjos. É obvio que Jesus falou isso na condição da sua natureza enquanto homem, e ainda porque ele queria dá um ponto final a qualquer pergunta. Estabelecer uma data seria da parte de Deus não respeitar a consciência e a liberdade das pessoas. Todos os homens estariam condicionados a um esquema, a um cronograma e Deus não seria Deus se assim o fizesse, pois, se há algo em Deus é respeitar o livre processo dos homens em construir suas histórias e suas consciências. Mas Jesus estabeleceu sinais os quais antecederiam sua volta. Isso é importante. 
9a Pergunta: O Sr. poderia descrever esses sinais?
Resposta: Podemos dividir os sinais em categorias: morais, cósmicos e espirituais. Jesus falou a respeito de como o mundo estará moralmente antes de sua vinda; assim como foi nos dias de Noé, quando os homens casavam-se e davam-se em casamento, bebiam e se divertiam. Isso significa que tanto nos dias de Noé, ou seja, dias que antecederiam o dilúvio quanto nos dias que antecederão a volta de Cristo, a humanidade estará mais preocupada com ela mesma; tudo se concentrando no homem e nas suas necessidades físicas, sem se importarem com as coisas espirituais. (Mateus 24,37-44). A humanidade estará distante de Deus... O apóstolo Paulo também faz uma alusão a esse movimento, mais apontando para o lado cruel. Os homens serão amantes de si mesmos, soberbos, insolentes, sem afeição, impiedosos, mais amigos dos prazeres do que amigos de Deus -(II Timóteo 3,1-5). Quanto aos sinais cósmicos, o evangelista Lucas descreve o seguinte: "E haverá sinais no sol e na lua e nas estrelas; e na terra angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas.Homens desmaiando de terror, na expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto as virtudes do céu serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima. E disse-lhes uma parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores; quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão. Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o reino de Deus está perto. (Lucas 21:25-31). Lucas acrescenta algo importante, por meio de uma parábola, ele diz que assim como a figueira quando brotam é sabido que o verão está próximo, do mesmo modo, quando os sinais cósmicos começarem acontecer, a redenção dos crentes, ou seja, a volta de Cristo estará por acontecer. Quanto aos sinais espirituais, o mais intrigante é o falso profetismo, predito pelo Senhor, e também uma demanda dos crentes em querer ouvir aquilo que somente lhes causem prazer... O mundo estará numa apostasia, numa polaridade espiritual, de um lado uma intelectualidade vazia e por outro uma espiritualidade sensacionalista. 
10a pergunta: Mas muito se ouviu falar sobre uma grande tribulação que vai acontecer antes do fim do mundo, o que o Sr. tem acrescentar a respeito dela?
Resposta. Eu não diria acrescentar, mas subtrair...



A Doutrina sobre o Espírito Santo. 

A proposta da Escola Bíblica Dominical em estudar sobre os Artigos de Fé da Igreja de Sião, não tem um caráter de apenas informá-la a respeito de sua doutrina e interpretação da revelação de Deus através das Escrituras; sabemos que uma vida com Deus não se traduz apenas num plano teórico do saber, mas concomitantemente a isso, uma vida de adoração e intimidade com Deus, o que de fato revela uma experiência com Deus. Temos a consciência que, somente o “saber” não seria o julgamos coerente com a Revelação das Escrituras é à base de sustentação dessa grande construção que denominamos de experiência com Deus; mas a “base” por si só não é suficiente se estes conceitos que por ora defendemos ficarem na esfera do raciocínio teórico. Uma “vida plena” com Deus se constrói a partir de uma teoria, sim! No entanto, cabe aqui o reconhecimento de que, o “sentido” dessa teoria só é possível a partir da experiência, ou seja, de sua aplicação no nosso dia-a-dia. Essa vivência, como experiência de fato, é uma ação do Espírito Santo – o Deus Presente em nós – tema da lição de hoje. Não nos iludamos a respeito da fé como teoria; a Bíblia diz que até o os demônios creem, e estremecem – Tiago 2:19 – Somos, segundo a estatística, o país mais cristão do mundo e o mais contraditório também em vista a essa afirmativa, quando vemos o misticismo, a crendice popular, assumindo as mais diferentes formas de expressão. “Ser cristão” não é apenas, abraçar alguns conceitos do catecismo católico e do credo evangélico; “ser cristão” é traduzir no seu estilo de vida o modelo da pessoa de Cristo. Esta mudança só é possível mediante a ação do Espírito Santo, através do qual se tornará evidente a diferença entre aqueles que de fato “teorizaram” a Deus; daqueles que vivem uma “experiência” com Deus. O Espírito Santo de Deus nos liberta de uma fé medíocre, vergonhosa, comum, contaminada de crendices, e nos lança num contínuo processo de construir a história da criação, a partir de um embasamento teórico, mas permeado de uma atitude de adoração e comunhão. 

O ESPÍRITO SANTO VIVIFICA A OBRA DE DEUS NO MUNDO 

Estudar sobre as coisas de Deus e aprender de seus conceitos, todos o podem fazer. Com certeza, além da teologia, a filosofia; a própria história como ciência, e até a antropologia já se confrontaram com o “tratado” sobre Deus. Mas isso como já disse na introdução, não traduz uma vida com Deus, certo de que, uma “vida com Deus”, é diferente, pelo seu estilo e objetivo, pois o estudo deixa a esfera da sistematização e passa a ser uma comunhão e adoração. Quando nos debruçamos, portanto, à investigação sobre o objeto de nossa fé, não o fazemos como fazem os pesquisadores da ciência; nossa intenção não é provar e nem tão pouco criar uma teoria que sustente a idéia que de fato Deus existe. Santo Tomás de Aquino (1225-1274) se aprofundou em explicar racionalmente a existência de Deus; criou assim, cinco argumentos para provar a existência de Deus, embora, o teólogo, soubesse que a razão humana não poderia ser a base para a fé em Deus. Há uma diferença significativa entre “teorizar” Deus e “vivenciar” Deus; esta diferença é determinada por uma ação, uma ação do Espírito Santo de Deus, de acordo como verificamos nos textos sagrados. A partir dessa “ação” podemos ter contato sobre a Pessoa do Espírito Santo, no sentido de definirmos sua natureza, sua obra no mundo e no coração humano. A maneira de compreendermos a obra do Espírito Santo é o que irá servir de base para o que aqui pretendemos, o Espírito Santo é o mesmo Deus que nos possibilita uma vida de comunhão, de um caráter regenerado, transformado e de uma vida de adoração. 

I - O ESPÍRITO SANTO NO ANTIGO TESTAMENTO. 

O livro do Gênesis retrata o início da criação da terra descrevendo-a como um caos, sem forma e vazia, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas, segundo o relato de – Gênesis 1:2 – dando-nos, assim, a ideia de que o Espírito de Deus estava no controle da obra criativa de Deus e era o mesmo Espírito que daria o sentido e vida à matéria que ia sendo formada. No relato do Salmo 104 que trata da obra da criação e sua preservação, o salmista faz uma alusão sobre o Espírito, como criador e que renova e mantém preservada a natureza criada; diz o verso 30: “Envias o teu Espírito, e são criados; e assim renovas a face da terra”. O Espírito Santo, chamado também de o Espírito de Deus, é o próprio Deus, manifestado ao mundo para organizar o caos e reorganizar a obra da criação num “processo” contínuo e dinâmico; sem o qual o mundo, com certeza, seria apenas como uma bela paisagem nalguma tela que aos poucos poderia perder o brilho e textura. O Espírito de Deus no Antigo Testamento, diferente de como se apresenta no Novo Testamento, não estava presente em todos os homens da comunidade de Israel, mas, apenas, sobre alguns, dando-nos a idéia de capacitação. Vamos percorrer alguns textos que nos dão base para concluirmos que o Espírito Santo é a manifestação de Deus, que especifica e qualifica o homem para a obra de Deus, nas mais diferentes funções: 

a) Habilidade para decoração do Tabernáculo. O Senhor designou homens a fim de que elaborassem o trabalho de decoração do tabernáculo e para isso, os capacitou com o seu Espírito – Êxodo 31:3. O Espírito de Deus lhes daria: habilidade, inteligência e conhecimento para projetarem e organizarem de acordo com o coração de Deus. 

b) Capacitando os auxiliares de Moisés. Quando Moisés achou pesado seu cargo de líder sobre Israel, o Senhor designou que fossem escolhidos setenta homens, que o auxiliasse na jornada, e sobre estes homens, o Senhor os capacitou com o seu Espírito, o mesmo que já repousava sobre Moisés – Números 11.17. 

c) A preocupação de Moisés em relação ao seu sucessor. Ao fim do ministério de Moisés, este orou ao Senhor sobre o seu sucessor; invocou o Senhor, como o autor e conservador de toda a vida; após isso, pediu que Deus colocasse um homem à frente do seu povo, a fim de que este nunca viesse a ser como um “rebanho sem pastor” – Números 27:17. Esta oração denuncia uma preocupação de Moisés: o povo precisava de um líder, mas de um líder preparado e qualificado por Deus. O Senhor ouviu a oração de Moisés, indicando Josué e o afirmou: “homem em quem há o Espírito” – Números 27.18. 

d) Capacitando a liderança na nova Terra. Após a morte de Josué, o povo de Deus se afastou do Senhor, desobedecendo-o, fazendo alianças com outros povos e casando com mulheres desses povos. Mas ao perceberem o que estavam fazendo, os filhos de Israel, clamaram ao Senhor, e o Senhor levantou homens, os quais foram denominados de juízes, dentre esses Otniel sobre o qual repousava o Espírito do Senhor – Juízes 3.10; Gideão foi mais um desses homens; comissionado por Deus derrubou o altar de Baal, o deus pagão; e ao enfrentar os inimigos, o Espírito do Senhor repousou sobre ele – Juízes 6:34; Jefté um outro juiz de Israel, quando teve que enfrentar os amonitas, a Bíblia diz que, o Espírito do Senhor veio sobre Jefté e este encontrou força e estratégia para chegar ao acampamento inimigo – Juízes 11:29. 

e) A “unção” – símbolo do derramamento do Espírito - A escolha de Davi nos leva a uma outra reflexão sobre o Espírito Santo, quando o Senhor Deus ordenou que, Samuel ungisse a Davi com óleo para ser Rei de Israel; ao faze-lo, a Bíblia diz que, assim que foi “ungido” com o azeite, o Espírito de Senhor se apoderou de Davi a partir daquele dia em diante – I Samuel 16:12-13. Este fato é rico de significado, pois associa a “unção com o azeite” ao derramamento do Espírito, dando-nos a ideia de que o azeite, pelo menos naquele momento era “símbolo” do Espírito do Senhor que estaria sobre Davi com o fim de capacitá-lo ao exercício do governo de Deus sobre Israel. 

Estes enunciados nos dão conta de que o Espírito do Senhor é a manifestação de Deus nos homens que os escolheu para exercer uma determinada função sobre o seu povo; isso significa, que toda a “ação” no que tange a obra de Deus no mundo, deverá ser feita sob a ação do próprio Deus mediante o agir do seu Santo Espírito no homem. Portanto, podemos concluir que o Espírito Santo é a “atualização” de Deus no mundo; com este fim, capacitou os homens, não só os juízes, reis e sacerdotes, mas, os profetas para serem “porta-vozes” dos oráculos divinos. 

O ESPÍRITO SANTO E OS PROFETAS. Os profetas, diferentes dos reis e juízes, foram aqueles que desenvolveram um ministério de intimidade com Deus; um ministério de “participação” do Conselho de Deus para serem mensageiros desse Conselho. As expressões por diversas vezes encontradas nas profecias: “Assim disse o Senhor”, “veio a mim as palavras do Senhor” nos dão conta, que o Senhor falava por meio dos seus profetas; estes tinham a plena convicção, quando se pronunciavam, de não se tratar de suas palavras, mas da Palavra do próprio Deus, por isso, estavam de algum modo, em razão desta convicção, “cheios” do Espírito, para transmitirem suas palavras, com firmeza e autoridade, certos de que eram palavras de Deus. 

a) Os lábios de Isaías foram tocados por uma “brasa viva” vinda do altar – Isaías 6:6-7. O profeta Isaías teve uma visão da glória e majestade de Deus, quando viu o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e ainda, alguns anjos cantando e o adorando. Mediante essa bela visão, Isaías reconheceu sua miséria humana; sua incapacidade de transmitir os oráculos de Deus, uma vez que seus lábios eram lábios impuros. No entanto, do altar, o profeta teve a visão de um dos anjos, que cantavam a santidade de Deus virem na sua direção, tocou-lhe nos lábios com uma “brasa viva”. Esta passagem das Escrituras nos revela a “unção” de Deus em relação à missão que o profeta estava sendo comissionado. Após isso, o Senhor perguntou ao profeta quem seria enviado a ir a esta missão? O profeta entendeu a visão, recebeu a “unção” e assim se dispôs: “Eis-me aqui Senhor!” - Isaías 6:7. 

b) O Senhor tocou na boca do profeta Jeremias – Jeremias 1:9. O Senhor falou ao profeta Jeremias que sua escolha já tinha sido feita desde o ventre de sua mãe, mas, o profeta se viu pequeno; colocou-se como uma criança que não sabia falar. No entanto, apesar desse seu reconhecimento humano, o Senhor tocou-o na sua boca e disse: “Eis que ponho as minhas palavras na tua boca” – Esta expressão do Senhor revela novamente a “unção” de Deus como garantia de sua capacitação e ousadia em falar no lugar de Deus. 

c) Quando o profeta Ezequiel foi chamado pelo Senhor, o Espírito entrou nele, e este ficou de pé para receber as palavras do Senhor – Ezequiel 2.2. O profeta Ezequiel também teve uma visão da glória de Deus e em seguida, o Senhor lhe dirigiu suas palavras, e nisso o Espírito “entrou” em Ezequias e o pôs de pé. Novamente, o Senhor ordenou que Ezequias abrisse sua boca para comer o que o Senhor lhe daria. Tratava-se de um livro, O profeta abriu sua boca e começou a comê-lo. Esta passagem nos mostra o quanto o profeta deveria estar plenamente envolvido com o conteúdo do livro com o fim de levar a cabo sua missão. Depois da ordenança do Senhor, a Bíblia diz que, o Espírito o levantou e a mão do Senhor era forte sobre ele – Ezequias 3:12-15. 

Ainda no Antigo Testamento além dessas narrativas acima, vamos encontrar outras importantes que nos mostram a finalidade da atuação de Deus através do Espírito Santo. Estas narrativas nos revelam a “dinâmica” da atuação do Espírito, como uma atuação restauradora e vivificadora. Isto quer dizer, que, a obra de Deus, desde o Antigo Testamento não é uma obra inerte, estática, mas um “movimento de vida”, ou seja, algo vivido e experimentado na vida humana; sem este Espírito, não seria possível a presença de Deus no mundo no sentido de criar, regenerar e atualizar. 

1. A atuação do Espírito de Deus regenerando: O profeta Ezequiel numa visão a respeito da restauração de Israel vislumbra um retorno, para sua própria terra, de todos aqueles, cidadãos de Israel, que foram espalhados em outras nações; esse movimento de imigração era humilhante, uma vez que o povo, por força de uma série de circunstâncias, teve que abandonar a terra que o Senhor Deus lhe havia dado, para fixar residência numa outra, estranha. Este “retorno” visava ainda outro significado, muito mais profundo, pois se tratava de um “retorno” a comunhão com Deus, uma vez que, Israel, estava disperso, não só de sua terra natal, mas também, da sua intimidade com Deus. Esta comunhão, porém só seria possível mediante uma transformação interior, conforme as palavras do profeta Ezequiel: “Pois vos tirarei dentre as nações, e vos congregarei de todos os países, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias, e de todos os vossos ídolos, vos purificarei. Também vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis.” _ Ezequiel 36:24-26. O Espírito Santo, baseando-nos nesse texto atua no caráter do homem; na sua emoção e sentimentos; trata-se, pois da presença de Deus em todas as áreas da vida humana. Longe desta presença, o homem estará numa outra “terra”, de medo e insegurança. O rei Davi experimentou esse “distanciamento” conforme o relato do Salmo 51. Sua oração traduz o sentimento de temor e arrependimento e ao mesmo tampo um apelo dramático: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu santo Espírito” – Salmo 51:11. Sem este Espírito, Davi não poderia mais desfrutar de uma vida alegre, e nem de uma vida convicta da salvação; nem tão pouco serviria o Senhor com espontaneidade, mas, poderia cair na repetição dos ritos, sem ânimo, sem vida, e isso poderia traduzir “atos de religiosidade”, mas não, uma vida plena com Deus. 

2. A atuação do Espírito de Deus vivificando: O profeta Ezequiel foi levantado pelo Espírito de Deus e conduzido até um “lugar de ossos” secos. Era um vale de ossos secos! Uma viagem não muito prazerosa num lugar não muito recomendável para se visitar. Mas o Senhor conduziu o profeta aquele lugar para mostrar a realidade espiritual em que o seu povo se encontrava – uma vida sem esperança, e sem alegria. Assim como aquele “vale de ossos secos” assim era vida espiritual do seu povo – seca; sem fôlego, sem vida – Ezequiel 37.11. O profeta foi levado até aquele vale para profetizar sobre aqueles ossos, e suas palavras eram: “Eis que vou fazer entrar em vós o fôlego da vida, e vivereis” – Ezequiel 37:5b. O povo de Deus igual a um “vale de ossos secos” estava morto. A palavra do profeta vislumbra, assim, as “sepulturas abertas” de onde sairia o povo de Deus, e assim o Espírito seria derramado e o povo vivificado – Ezequiel 37.13-14. Poderíamos pensar um pouco mais sobre essa passagem das Escrituras e nos perguntar: “Como podemos aplicar isso, hoje nas nossas vidas?” Os ossos formam uma estrutura que sustenta o nosso corpo humano, embora saibamos que o comando dessa estrutura está num outro órgão – o nosso Sistema Nervoso Central. A igreja, é comparada pelo apóstolo Paulo, como um corpo humano, o que pode significar, em relação ao texto de Ezequias, que estes “ossos secos” são a estrutura da Igreja, no sentido de organização de como esta funciona. Cada igreja tem um estilo próprio para funcionar com normas e leis que norteiam esse funcionamento. No entanto, se este funcionamento não estiver pautado no “fôlego de Deus”, ou seja, na unção do seu Espírito, a igreja, pode cair na triste realidade de ser comprada a um “vale de ossos secos”. 

3. A atuação do Espírito de Deus “batizando” – Outra passagem que nos mostra, numa linguagem metafórica, a ação do Espírito de Deus, diz respeito à visão do profeta Ezequiel sobre as “águas purificadoras” – Ezequiel 47:1-12. Seria interessante a leitura do texto. Evidentemente que, para chegarmos a conclusão de que se trata do Espírito de Deus, temos por base outras Escrituras. Foi o próprio Senhor Jesus, quando ensinou seus discípulos sobre a “ÁGUA VIVA” deu-nos a compreensão da linguagem bíblica ao afirmar que esta “água viva” era o seu Santo Espírito. – João 7.38-39. Podemos fazer uma alusão a respeito das “águas purificadoras” levando em conta a obra do Espírito Santo no mundo a partir do dia do Pentecostes – Atos 2. O Espírito Santo tem uma obra a realizar na vida de todo o crente que começa a experimentar a realidade de uma nova criatura; esta realidade, para que de fato venha se tornar numa “vida plena“, é necessário que o crente, se abra ação do Espírito. “Vida Plena” significa uma vida segundo o Espírito, mergulhada e envolvida do Espírito. Muitos vivem uma vida espiritual medíocre, sem nenhum envolvimento de coração e alma no seu relacionamento com Deus; outros vivem apenas nos conceitos e tratados das coisas de Deus, sem mergulhar de fato na sua dimensão. Com a leitura do texto de Ezequiel, verificamos, que o Senhor não quer somente, que tenhamos contato com o Senhor Jesus, tendo-o confessado como Senhor; o Senhor quer que “mergulhemos” numa vida plena do Espírito, o contrário, podemos fazer parte daqueles que apenas contemplam as maravilhas de Deus, como belas, mas sem algo a mais. Desde o Antigo Testamento a promessa do Espírito, mesmo, numa linguagem metafórica, é real, e suficientemente capaz de provocar: regeneração, vivificação e uma vida intensa com Deus. O profeta Joel é mais claro e enfático quanto à obra do Espírito. Vejamos o que diz o texto: 

“Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões; e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito. E mostrarei prodígios no céu e na terra, sangue e fogo, e colunas de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; pois no monte Sião e em Jerusalém estarão os que escaparem, como disse o Senhor, e entre os sobreviventes aqueles que o Senhor chamar.” – Joel 2:28-32 

Foi baseado em cima desse texto que o Apóstolo Pedro na sua pregação no dia de Pentecostes, justificou o que estava acontecendo com os discípulos após a descida do Espírito Santo. Finalmente, estava se cumprindo aquilo que o profeta Joel já havia predito. A profecia de Joel testifica a missão do Espírito Santo descrita até aqui. 

a) A expressão: “derramarei do meu Espírito” nos passa a idéia de algo dinâmico, em movimento, como “água que se derrama”. A ação do Espírito não é estática, mas viva no sentido de experiência, de algo vivido na alma e no corpo. 

b) As “filhas profetizarão” nos dão conta da “capacitação” do Espírito dado aos homens para a realização de sua obra, assim como, os profetas, todos os homens, que assim o quiserem, podem ser tomados pelo Espírito para serem instrumentos de regeneração; vivificação e criação através de uma mensagem “profética” 

c) Os “anciãos terão sonhos”. Os “sonhos” como ação do Espírito denota o sentido de perspectiva em relação à obra de Deus na face da terra; nos dá a idéia de meta, ideal de vida. O Espírito Santo nos possibilita a estabelecermos metas e alvos, pois ele é a vida de Deus em nós e assim, através de sua ação podemos resgatar as bênçãos que o homem perdeu no Paraíso: a bênção do crescimento e da multiplicação . 

d) Os jovens terão visões. O Espírito Santo, segundo a profecia de Joel, é um Espírito que nos abre o horizonte; por isso, que as visões aqui, não têm somente o sentido de imagens que passam na nossa mente, mas, “visão” no sentido de “ampliação” em relação, novamente à obra de Deus e também a própria vida. 

Podemos concluir, segundo o texto de Joel, que o “derramamento”, a “profecia”, os “sonhos” e as “visões”, nos confirmam a ideia de que o Espírito de Deus presente no Antigo Testamento, é um Espírito que manifesta o agir de Deus nos homens, no sentido de capacita-los e equipa-los com os recursos do próprio Deus, afim de que a ação de Deus aconteça no mundo no sentido de ser experimentada e vivenciada. Sem o Espírito de Deus, a terra e a humanidade inteira, poderia estar como no início de sua criação – sem “forma e vazia”. Mas o Senhor nos deu o seu Espírito para nos servir de “continente”, sem esse “continente”, a existência não teria o menor sentido. 

II. O ESPÍRITO SANTO NO NOVO TESTAMENTO. 

Antes do início do ministério de Jesus, o Senhor Deus preparou o profeta João “Batista” para anunciar que o advento do Senhor Jesus, anunciado pelos profetas do Antigo Testamento, finalmente havia chegado. Sua missão era chamar aos homens para o arrependimento, pois o reino dos céus já havia chegado, e, o caminho para seu ingresso, era um coração regenerado e transformado. A pregação do “Batista” falava que, enquanto, ele, o “batista”, batizava com água como símbolo de purificação, viria, após ele, outro, que batizaria com o Espírito Santo, e em fogo – Mateus 3:11. A partir deste momento, os escritos vão apresentar o Espírito de Deus, como era conhecido nos textos do A.T. com outro nome, o Espírito Santo. O evangelho de Lucas faz algumas referências sobre a vida e o ministério de Jesus apresentado, a obra e o agir do Espírito Santo: 

a) Quando, a virgem Maria, recebeu a notícia de que viria ser a mãe do Salvador, o anjo Gabriel, explicou como isso iria acontecer: “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrira com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus” – Lucas 1.35. 

b) Jesus foi batizado por João “Batista”, e após o batismo, o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu uma voz que dizia: “Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo” - Lucas 3:21-22. 

c) Jesus, cheio do Espírito Santo, conforme diz o texto, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto – Lucas 4:1. Ali o Senhor foi tentado. 

d) Quando Jesus voltou para a Galileia, o texto de Lucas 4:14, diz que voltou no poder do Espírito. Começou a pregar na sinagoga, um texto do profeta Isaias que dizia: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor”, em seguida, o Senhor Jesus disse aos seus ouvintes, que aquela profecia acabava de se cumprir na sua pessoa. 

e) Outros textos como o de Hebreus 9.14 nos dão conta que foi mediante a força e unção do Espírito Santo, que o Senhor Jesus se entregou incondicionalmente na morte de cruz por todos os homens. O caminho da cruz não poderia ser suportado por uma ação humana de entrega, tão somente; isso quer dizer, que sobre Jesus, a caminho do calvário, estava o Espírito derramando o amor do Pai por todos os homens. Foi movido por este sentimento de entrega derramado pelo Espírito que o Senhor Jesus ofereceu a si mesmo imaculado a Deus. 

f) O Espírito Santo ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Do mesmo modo, segundo o Apóstolo Paulo na carta aos Romanos 8.11, o mesmo Espírito, que ressuscitou Jesus, há de nos ressuscitar. Como Espírito de Vida vivificará os nossos corpos mortais, assim como vivificou o corpo de Cristo. 

Dessas narrativas podemos perceber que o mesmo Espírito que operava no Antigo Testamento é o mesmo que atua no Novo Testamento, no mesmo movimento, com o mesmo propósito – “atualizar” a ação de Deus no mundo; ou seja, “tornar Deus presente no mundo” não apenas numa esfera teórica, ou no nível do conhecimento, ou como uma “energia cósmica”, mas como uma pessoa real, viva e imanente. A ação do Espírito Santo, é descrita por João “Batista”, como um “batismo de fogo”. Seria interessante definirmos, sobre o termo “batismo” para melhor entendermos a dimensão da atuação do Espírito Santo. “Batismo” quer dizer “mergulho” de onde podemos inferir uma série de outros termos como: envolvimento; engajamento; experiência; entrega; inserção. Isso tudo quer nos dizer, que o Espírito Santo, apresentado no Novo Testamento nos chama para uma “experiência de fato” com Deus, para uma vida com Deus; para um envolvimento com Deus. A “capacitação” vista no Antigo Testamento, se confirma nas narrativas dos Evangelhos, na Pessoa de Jesus; antes de começar o seu ministério, Jesus foi batizado, e naquele momento, recebeu o Espírito Santo que o confirmou e o capacitou na unção para exercer o seu ministério. Jesus sabia, que após sua ascensão para o céu, a Igreja nasceria e então, a partir daí, começaria o período da “dispensação” da atuação do Espírito Santo; por isso, o evangelho “joanino”, traça com mais clareza e constância a atuação do Espírito Santo apresentado: 1) A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO. 2) A MISSÃO E PROPÓSITO DO ESPÍRITO SANTO. 3) A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO. O Evangelho de João diferente dos evangelhos sinóticos, não tem uma preocupação somente de apresentar fatos da vida do Senhor, mas apresentar o pensamento do próprio Deus através da vida de Jesus; por isso registra com mais conteúdo, os discursos do Senhor Jesus. Foi num desses discursos, que o Senhor apresentou o Espírito Santo, dando-nos um perfil mais amplo sobre sua ação, sobre o seu propósito e Pessoa: 

1. A NATUREZA DO ESPIRITO SANTO 

Quando falamos da natureza do Espírito, estamos nos referindo a essência e atributos do Espírito Santo. Em vista disso, o próprio nome já nos aponta para esta natureza - o Espírito de Deus, é Santo; foi o próprio Jesus que o denominou assim – João 14:26. Este nome diz respeito a sua natureza divina, uma vez que, somente Deus é santo no sentido estrito da palavra: “moralmente santo”; por isso, o seu Espírito, também é Santo. Deste modo, não está sujeito à natureza profana e enganosa da natureza humana, mas separado desta, para renova-la e transforma-la. Quando o apóstolo Paulo trata do “fruto” do Espírito, em Gálatas 5.22 dá-nos a ideia do que vem a ser de fato essa natureza divina. Numa “teologia prática”, o apóstolo descreve o perfil da natureza do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, são qualidades intrínsecas do Espírito Santo. Além disso, o Senhor Jesus, por três vezes, no seu discurso, descrito em João 14.17, 15:26, 16:13 faz uma alusão sobre uma outra qualidade também inerente à natureza do Espírito, quando o denomina, desta vez, de o Espírito da verdade. Os enunciados inferidos desses versos nos dão conta de que, o Espírito Santo é a “epifania” da verdade de Deus no mundo; é através dele que podemos experimenta-la e vivenciá-la; mas para isso é preciso que saibamos qual é a verdade, segundo o conceito de Deus. A resposta a essa questão, está logo, na introdução do sermão de Jesus, quando Tomé, um dos seus discípulos, o interrogou, embora não precisamente sobre a verdade, mas sobre qual seria o caminho? Jesus, imediatamente respondeu: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” – João 14:6. A verdade estava ali diante de Tomé e este não sabia! Um pouco mais adiante, no mesmo sermão, quando Jesus se referiu ao nome de o “Espírito da verdade”, teve a preocupação de revelar que este Espírito procede do Pai com um fim de “testemunhar” sobre a própria Pessoa do Senhor Jesus - João 15:26. Esta fala de Jesus nos dá embasamento para afirmarmos, que o Espírito Santo, é denominado de o “Espírito da verdade”, pois, nos revela a “autenticidade” do Plano de Deus para o homem através da Pessoa do Senhor Jesus Cristo – isso faz parte da natureza intrínseca do Espírito Santo. Por isso, quando o Espírito “testifica” de Jesus, não o faz apenas apresentando-o como um homem da Galiléia, mas o testifica como a único “mediador” entre Deus e os homens; não há outra alternativa além desta; por isso o mundo não pode recebe-lo, pois, não o vê e nem o conhece – João 14:17 – mas é um “dom” de Deus, dado a todos que, com sinceridade se colocam diante de Deus; a estes, o Espírito os “guiará em toda VERDADE”, segundo o relato de João 16:13, ou seja, os guiará para Jesus Cristo. Desde a Queda humana, o mundo tem se pautado nas idéias e pensamentos humanos, quando precisamente no paraíso, o inimigo envolveu a mulher numa atmosfera de incredulidade, roubando-lhe a verdade que Deus já havia estabelecido no seu coração, e lhe impôs sua verdade falsa. O mundo não foi mais o mesmo a partir daí; nasceram as mais diferentes religiões com as mais diferentes propostas de promoção ao bem estar físico e mental dos humanos. Enquanto essas religiões traçam caminhos para o “bem estar” da consciência humana, através dos mais diferentes métodos, o “Espírito da verdade” nos guia para a Única verdade – o perdão de Deus por meio do Ato Redentor do Senhor Jesus Cristo – único meio capaz operar em nós esse “bem estar” tão almejado por todos os homens - I João 5:7. 

2. A MISSÃO DO ESPÍRITO SANTO. 

O Evangelho de João já nos seria o bastante no sentido de conteúdo para se ter uma noção da missão e o propósito do Espírito Santo; no entanto estaremos percorrendo outros textos das cartas do apóstolo Paulo, por exemplo, uma vez que, o apóstolo tem a preocupação de sistematizar a obra do Espírito Santo, quando nos apresenta os dons no que diz respeito a sua natureza e finalidade. Por ora, vamos percorrer o Evangelho joanino, na passagem do encontro de Jesus com o Nicodemos, quando vemos o Senhor Jesus falar a respeito do “novo nascimento”. Nicodemos não entendeu muito bem do que se tratava; sua compreensão foi muito literal, mas Jesus revelou que o “novo nascimento” era uma obra do Espírito Santo – João 3:5-6. A missão do Espírito Santo assim como foi descrita no livro de Ezequiel 36.26 se confirma no Novo Testamento – o Espírito Santo atua na conversão do crente: 

2.1.O ministério do Espírito Santo é operar a conversão do crente. Através da conversão, o Espírito Santo transforma a vida do “novo crente” numa nova natureza, tendo em vista, que essa natureza, era refém de seu próprio desejo e instinto. Por isso o Senhor falou a Nicodemos: “Não te admires de eu haver dito: Necessário vos é nascer de novo” – João 3:7. Este “novo nascimento” é uma ação do Espírito Santo, certo do que o Senhor falou a Nicodemos: “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” – João 3:6. Este enunciado quer dizer sobre a atuação do Espírito Santo no nosso “homem velho”, quando então, nos “imprime” um “novo caráter” - o caráter da imagem e semelhança do Criador, nos transformando assim, num “novo homem interior”. Em tese podemos pensar que a partir desse “novo nascimento” não reproduzimos mais os traços de caráter de nossos pais biológicos, mas os traços do caráter de nosso Pai celestial. Por isso, o apóstolo Paulo afirma que aquele que está em Cristo é uma nova criatura - II Cor. 5:1. Esta nova qualidade de vida nos coloca na condição de participantes da filiação divina. A Bíblia diz que, o Espírito Santo testifica no nosso espírito essa convicção, de que a partir dessa “mudança interior” somos inseridos na posição de filhos de Deus, e como filhos também herdeiros das coisas de Deus - Romanos 8:16-17. Na prática isso significa que podemos ter a plena convicção da nossa vocação para o céu; e o “penhor”, a garantia dessa herança, segundo o relato de Efésios 1.13-14, é o Espírito Santo em nós. Voltando ao discurso de Jesus onde tratou sobre o tema do Espírito Santo, as Escrituras nos revelam que a missão do Espírito é ampla no sentido de convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo – João 16:8. Este enunciado é muito significativo uma vez que nos traz um dado importante quanto ao procedimento do crente em relação à “nova vida” que o Espírito veio inaugurar, ante ao modelo de vida do mundo. Na prática vamos ver o que significa uma verdadeira conversão: a) O crente convertido assume uma nova concepção de vida. O Espírito Santo nos convence do mundo e do pecado; fazendo a diferença entre os que servem a Deus dos que servem o mundo; ele nos dá uma consciência; a consciência moral bíblica. Enquanto o mundo tem uma consciência natural, o crente passa a ser orientado por uma consciência moral que o confronta ante a realidade do pecado – É nessa maneira de “olhar” nossos desejos e anseios que repousa a nossa ética de comportamento no mundo tão distante de Deus – I Cor. 6.12. O texto de Romanos 8: 5 é muito enfático quando afirma, sobre os que “são da carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito”. Podemos inferir que uma vida segundo o Espírito possibilita a mortificação das obras da carne – Romanos 8.13. Quando o texto fala o termo “carne” está se referindo a natureza humana corrompida pelo pecado. b) O Espírito Santo convence o novo crente da Justiça. A partir de nossa conversão temos a certeza que, embora pecadores, pecadores redimidos, porém, temos a Jesus que junto ao Pai intercede por nós. É Jesus que nos justifica através de seu sangue. O mundo não tem consciência dessa verdade, não tem noção de pecado e nem tão pouco noção para sua cura. Sabemos que o pecado nos separa de Deus, mas Jesus nos aproxima. Através dele fomos justificados. Este sentimento é obra do Espírito Santo. c) O Espírito Santo nos convence sobre o juízo de Deus. O Espírito Santo nos convence de que o mundo é regido por outra força, a força do “príncipe deste mundo”; é este que está por detrás de toda a desgraça humana, mas pelo Espírito temos o conhecimento do seu desfecho final – este príncipe já foi julgado e condenado. O novo crente não pode ter aliança com ele e nem com as coisas dele. Assim como já foi condenado, todos os que seguem sua trilha, se não se converterem terão como recompensa a mesma sorte. É o Espírito Santo que grita dentro de nós: “Que harmonia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o crente com o incrédulo; pois que sociedade tem a justiça com a injustiça? Ou que comunhão tem a luz com as trevas”? – II Cor. 6: 14-15. Se não formos sensibilizados por essas questões, temos que repensar sobre a nossa vida com Deus no sentido de nos questionarmos: “Temos o Espírito de Deus ou não?”. 

2.2.O ministério do Espírito Santo atua na experiência humana, transformando-a. O apóstolo Paulo traça um perfil do novo caráter do crente quando menciona em Gálatas 5.22 sobre o “fruto” do Espírito. Nessa passagem o apóstolo descreve o perfil que irá fazer parte do novo estilo de vida do crente convertido pelo Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Após isso o apóstolo enfatiza, que os que “são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências” e acrescenta: “Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito” – Gálatas 5: 24-25. O “fruto” do Espírito Santo descrito pelo apóstolo dizem respeito aos sentimentos; e estes fazem parte da nossa experiência humana; não estão apenas na esfera do intelecto humano, como conceitos abstratos, mas na esfera da alma; no cerne da nossa interioridade, ou do “homem interior”, como diria o apóstolo. É, pois de dentro de nossa alma, que emanam sentimentos bons ou ruins. O Espírito Santo muda a nossa maneira de “sentir”. Foi Jesus quem falou sobre isso, quando disse, que aquele que cresse na sua Pessoa, do seu “interior correrão rios de águas vivas”; logo em seguida a essa clássica expressão, o Senhor Jesus esclareceu que essa “água viva” era o seu Espírito que fluiria do interior do crente – João 6:38-39. 

2.3.O ministério do Espírito Santo atua na vida do crente confortando-o. O Senhor Jesus denomina o Espírito Santo como o Ajudador – aquele que estará para sempre conosco. Diante da tarefa de nos tornarmos uma nova criatura num mundo totalmente contrário a essa nova natureza, somos desafiados a permanecermos nesse projeto de Deus, ou desistirmos dele. Às vezes nos sentimos sozinhos, como humanos que somos. Mas, graças ao Nosso Deus que nos deu o seu Espírito para fazer o “Deus presente” na nossa experiência humana, o que nos possibilita a continuarmos a jornada. O Senhor nos deu o seu Espírito como o Consolador ante aos desafios que temos que travar nesse universo de contradições. Uma das tarefas do Espírito que já operou o novo crente, é continuar fortalecendo-o e o confortando. Foi o próprio Senhor nesse mesmo discurso que afirmou: “No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” – João 16.33. O Espírito Santo nos consola através da Palavra de Deus – as Sagradas Escrituras. Quando as lemos não o fazemos como um livro comum, mas como Palavra de Deus; nem sempre, porém temos habilidades intelectuais para memorizarmos capítulos e versículos deste precioso livro, mas na hora da tribulação e desalento que às vezes passamos, o Espírito não só nos ensina, dando-nos sabedoria de como agir como também nos fará lembrar-se de todas as palavras ditas pelo Senhor – João 14.26. Cremos nesse sentido que o Espírito Santo não usará algum anjo para se manifestar confortando o crente desolado; nem tão pouco usará de algum “translado” ou “êxtase”. O crente é confortado pelo Espírito através da palavra. Esta poderá vir por meio de alguma pregação, por meio de uma leitura pessoal, por meio de um estudo bíblico, ou por meio de alguma outra pessoa, mas nunca por meio que possam contradizer a Bíblia. 

2.4.O ministério do Espírito Santo é nos chamar para uma intimidade com Deus. O Espírito Santo nos chama para uma vida de intimidade com Deus, através desta, desenvolvemos uma vida de gratidão e adoração a Deus. Foi o Senhor Jesus quem falou no seu discurso sobre o Espírito Santo, que ele veio estabelecer conosco um relacionamento de amigos, quando disse: “Já não vos chamo de servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi do meu Pai vos dei a conhecer” – João 15.15. Embora o verso não faça menção à adoração, contudo podemos inferir que a adoração é um novo “estilo de vida” que demonstra a nossa sincera amizade com Deus. A nossa amizade com Deus só será “autêntica” se relacionada a este novo estilo. Mas por que “estilo de vida”? Porque é algo dinâmico que passa a fazer parte da vida do crente; não como uma prática ritual; mas como uma experiência de vida. O Espírito Santo testemunha a Jesus segundo o relato de João 15.26, mas como fará isso? Através de nós! Quando adoramos a Deus através de palavras ou cantos de gratidão estamos testificando a nós mesmos o sentido de Jesus em nossas vidas, isto é glorificar o Senhor Jesus em nós. O Senhor Jesus no seu sermão afirmou sobre o Espírito Santo: “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará” – João 16.14. É, pois através da igreja, que o Espírito Santo glorifica a Pessoa do Senhor Jesus. A adoração como estilo de vida é o meio que mais nos aproxima de Deus; através desse estilo, a oração, deixa de ser um “ato litúrgico” para ser uma vivência de amizade com Deus. O sermão de Jesus sobre o Espírito Santo faz por diversas vezes alusão sobre a oração, como petição: 

· “e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho” – João 14.13. 

· “Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito” – João 15.7. 

· ”Vós não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda” – João 15.16. 

· Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo seja completo. Disse-vos estas coisas por figuras; chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por figuras, mas abertamente vos falarei acerca do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai” – João 16.24-26. 

Nem sempre, porém, somos atendidos nos nossos pedidos, pois, na verdade nem sempre o que pedimos está de acordo com a vontade de Deus – Tiago 4:3. Neste sentido, o Espírito Santo, que conhece o coração de Deus nos ajuda a orar de acordo com sua vontade: “Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que esquadrinha os corações sabe qual é a intenção do Espírito: que ele, segundo a vontade de Deus, intercede pelos santos. E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” Romanos 8.26-28. O Espírito Santo é o mantenedor da nossa vida com Deus; esta é abrangente, pois nos envolve em todos os aspectos da vida e não apenas numa ação de frequentar uma igreja dominicalmente. 

2.5) O ministério do Espírito Santo é fazer a obra de Deus através da Igreja. Temos visto até aqui sobre a missão do Espírito Santo, como uma missão intensa, dinâmica e constante. Vimos a obra do Espírito na vida de um novo crente; no entanto esta obra não se esgota aí, uma vez que o Senhor não o chamou para um monastério, mas para uma comunidade, onde possa expressar através dessa comunidade a Pessoa de Jesus Cristo. No mesmo sermão que trata sobre o tema do Espírito Santo, o Senhor Jesus numa linguagem metafórica fala da importância da “igreja” sob dois aspectos: 1) Lugar de expressão autêntica de nossa comunhão com Deus; 2) E, como “condição nutriente” para uma vida espiritual frutífera. Jesus se coloca como a videira e nós os crentes somos os galhos, para nos mostrar, que desligados da videira, estaremos fadados a “morrer” secos – João 15:5. Este item porém, que trata da ação do Espírito Santo na Igreja, merece um destaque especial em razão de sua abrangência, onde estaremos tratando do “Batismo no Espírito Santo” e a manifestação dos dons do Espírito. Por ora podemos sistematizar o que falamos até aqui: O Espírito Santo não somente trabalha no sentido de transformar o nosso caráter no caráter de Cristo; a nossa mente, numa mente de Cristo, mas ainda, nos prepara a levar avante essa obra de transformação ao mundo – João 14:12 – Fomos vocacionados por Deus a realizar através da Igreja a obra de Cristo; por isso, o Espírito, que sempre capacitou os homens no A.T. nos capacita até hoje, se estivermos ligados à videira verdadeira que é Cristo – João 15:5 . 

3. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO 

Muitos textos descrevem o Espírito Santo de modo impessoal; mas não temos dúvida de sua personalidade. A maneira como é descrito: “fogo”; “água”; “unção” e até a forma corpórea de uma “pomba” , como aconteceu no batismo de Jesus, revelam sua diversas operações atuações. O Espírito Santo não é uma “energia de Deus”, nem tão pouco uma “força” de Deus no sentido de uma natureza impessoal. O Espírito Santo é Deus. No sermão do Senhor Jesus que trata do tema, o Senhor Jesus faz menção da personalidade de Deus, conforme os relatos: 

a. Jesus nomeia o Espírito Santo, como o Ajudador. O texto é enfático: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre” – João 14.16. Jesus está se referindo a outra Pessoa; ele não está falando de algo impessoal, mas de alguém que o nomeou de OUTRO, que viria para ajudar. 

b. O Ajudador mencionado pelo Senhor Jesus tem a missão de nos ensinar todas as coisas e nos fazer lembrar das palavras de Jesus - João 14:26. Uma força tem poder de nos envolver emocionalmente, mas não tem poder de nos ensinar; quem tem poder para nos ensinar é uma pessoa que tenha vontade. O Espírito Santo descrito pelo apóstolo Paulo em I Cor. 12.11, nos revela que ele tem o poder de distribuir seus dons como quiser. Portanto, este versículo confirma as palavras de Jesus: o Espírito Santo tem vontade e a exerce na distribuição dos dons como quer. 

c. O Espírito Santo vem para testemunhar a Pessoa de Jesus – João 15.26. O testemunho é uma ação de quem viu e presenciou alguma coisa, pois bem, o Espírito Santo pode dar testemunho de Jesus, pois ele não falará de si mesmo, como diz o texto de João 16.13, mas falará daquilo que ouviu. Uma “força” pode contagiar, mas não “ouvir”. 

d. O Espírito Santo foi-nos dado para “habitar” no meio de nós – João 14.17. É através de nós que ele se manifesta para realizar a obra de Deus. O apóstolo Paulo, a respeito dessa habitação afirma que nós somos o santuário do Espírito Santo, e é nesse santuário que Ele habita – I Cor. 6.19. Já na carta aos efésios quando o apóstolo Paulo nos exorta quanto à santidade ele pede que “não entristeçamos o Espírito Santo de Deus, no qual fomos selados para o dia da redenção” – Efésios 4.30. Se o Espírito Santo fosse apenas uma força, impessoal, não haveria porque se entristecer, uma vez que este sentimento é um sentimento pessoal; portanto, o Espírito Santo é uma pessoa. 

O Espírito Santo é uma Pessoa agindo e atuando distinto de Deus e é o próprio Deus. Este enunciado faz parte do mistério da Trindade, que reúne: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, como um Único Deus. A expressão não se encontra nas Escrituras, mas a maneira como os textos nos apresentam a pessoa de Deus, do Senhor Jesus e do Espírito, nos possibilita inferir, tratar-se do mesmo Deus. Na leitura da narrativa da história de Ananias e Safira, o apóstolo Pedro diz o seguinte: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço do terreno?” – Atos 5:3. Após isso, Pedro afirmou categoricamente que eles mentiram ao Espírito Santo. O casal julgava possivelmente que estaria enganando um homem, Pedro. Mas, no final do v. 4, o apóstolo faz outra afirmativa: “...Não mentiste aos homens, mas a Deus”. Mentir ao Espírito Santo, que estava presente no ministério de Pedro, era mentir a Deus! Esta é uma conclusão óbvia. A narrativa nos confirma o que já descrevemos até aqui, o Espírito Santo é o próprio Deus. Não é uma força, como que algo impessoal; se é Deus, é uma Pessoa. O sermão de Jesus e as cartas do apóstolo Paulo nos dão conta da personalidade do Espírito Santo. Mas há outro texto no livro de Tiago, quando este nos questiona quanto à amizade do mundo: antagônica e incompatível à amizade com Deus. No cap. 4:4 diz: “Ou pensais que em vão diz a Escritura: O Espírito que ele fez habitar em nós anseia por nós até o ciúme?”. As palavras habitar, almejar e “ter ciúmes” demonstram condições, qualidades de nós humanos, de pessoas, quando atribuídas a Deus chamamos de antropomorfismo para revelar que Deus é humano? Não! Mas para revelar a personalidade de Deus e assim diferenciá-lo da crença que O vê como uma força, uma energia positiva. Vimos, então que o Espírito Santo é uma Pessoa e esta Pessoa é o próprio Deus. 

O ESPÍRITO SANTO AGINDO ATRAVÉS DA IGREJA. 

A Igreja de Deus se diferencia de outros seguimentos religiosos pela sua atuação de fé, fundamentada na Pessoa do Espírito Santo. Cremos que o Senhor Jesus foi o fundador da Igreja; estabeleceu as bases de sustentação, mas o projeto de Deus de resgatar a humanidade, através do Ato Redentor do Senhor Jesus não se esgotou nas suas pregações, nem tão pouco na cruz do calvário. O ministério de Jesus é apenas o início de uma longa jornada. Momentos antes de sua ascensão aos céus o Senhor já exortou seus discípulos quanto à promessa da descida do Espírito, o qual iria capacita-los a continuar sua obra redentora até os confins do mundo. O livro dos Atos dos Apóstolos traça um panorama histórico da atuação do Espírito Santo através daqueles homens que o Senhor os chamou, os quais são denominados de apóstolos. Enquanto muitos seguimentos religiosos se sustentam por meio de suas idéias; por meio de sua estrutura organizacional e econômica, a Igreja é o único organismo no mundo que se sustenta pelo mover do Espírito Santo. Os apóstolos logo tiveram essa compreensão: 

  •  A escolha dos sete primeiros diáconos teve como critério, além da boa reputação entre os irmãos, deveriam ser, também “cheios” do Espírito Santo – Atos 6:3. 
  • Assim que os apóstolos, que estavam em Jerusalém souberam que os samaritanos receberam o Evangelho, enviaram Pedro e João, os quais tendo orado sobre os novos irmãos na fé receberam o Espírito Santo – Atos 8.14-16. 
  • Quando Filipe vai para o sul, a caminho que desce de Jerusalém a Gaza avistou durante o percurso um etíope. Nisso, o Espírito falou ao Filipe que se aproximasse daquele homem; assim que o fez percebeu que o etíope estava lendo uma passagem do profeta Isaías. Filipe estabeleceu um diálogo com aquele homem; começou a explicar a passagem das Escrituras. O resultado daquela “aproximação” foi a conversão e o batismo do etíope – Atos 8:29-40. Assim que este homem foi batizado o Espírito do Senhor arrebatou Filipe da vista do homem e este seguiu jubiloso o seu caminho. 
  •  O livro de Atos descreve que a Igreja sendo edificada tinha paz, em toda a Judeia, Galileia e Samaria e pelo o auxílio do Espírito Santo se multiplicava – Atos 9:31. 
  • Quando os irmãos de Jerusalém souberam da conversão dos gentios, dentre esses Cornélio, o apóstolo Pedro justificou de que modo aconteceu – o Espírito Santo o ordenou que fosse até aqueles irmãos, e assim o fez sem hesitar – Atos 11:12. 
  •  A primeira viagem missionária do apóstolo Paulo aconteceu nas seguintes circunstâncias: estavam reunidos na Igreja em Antioquia; durante um culto, onde ministravam perante o Senhor, o Espírito Santo falou a respeito da obra missionária; ordenou que Paulo e Barnabé fossem para essa viagem; depois que oraram se despediram. O texto é claro ao afirmar: Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre – Atos 13:2-4. 
  •  Nessa primeira viagem Paulo, esteve com o procônsul Sergio Paulo que mostrou interesse em ouvir a palavra; mas de repente apareceu ali “pai de santo” que tentava desviar o procônsul da Palavra, mas Paulo cheio do Espírito Santo o repreendeu, deixando-o cego por alguns dias – Atos 13:6-12. 
  • Diante da primeira controvérsia da igreja em relação à salvação dos gentios, os apóstolos se reuniram; tendo Tiago o uso da Palavra se posicionou sobre que decisão deveria ser tomada. Tiago se pronunciou dizendo que o parecer da Assembleia era um parecer segundo o Espírito Santo – Atos 15:28. 
  • Na segunda viagem missionária de Paulo quando atravessava a região frigio-gálata a caminho, desta vez para Ásia, foram impedidos pelo Espírito Santo de continuarem a viagem – Atos 16:6. 
  • Quando Paulo foi se despedir dos bispos de Éfeso, os exortou sobre o cuidado que deveriam ter sobre o rebanho, uma vez que foram constituídos bispos pelo Espírito Santo – Atos 20:28. 
  • Após sua partida de Éfeso, Paulo foi para Tiro; ali ficou durante sete dias. Os discípulos daquela cidade diziam pelo Espírito, que Paulo não fosse para Jerusalém – Atos 21:4. Paulo seguiu viagem depois de orarem de joelhos na praia para Ptolemaida, ficando ali muitos dias. Depois foram para a casa do Felipe, na Cesareia. Foi aí que um profeta chamado Ágabo se encontrou com Paulo e profetizou pelo Espírito, que este seria preso em Jerusalém. Os irmãos ficaram tristes; não queriam que Paulo fosse para Jerusalém, mas este confortou os irmãos dizendo que estava preparado para morrer pelo Senhor em Jerusalém – Atos 21:. 0-16. 
Não temos a menor dúvida, o governo da igreja “primitiva” repousava sob a direção e o comando do Espírito Santo, mas não evidentemente de modo vago e abstrato; o Espírito Santo exercia sua missão de “governo” da Igreja através dos homens que o próprio Espírito ia constituindo. As expressões acima sublinhadas em negrito nos dão conta do movimento do Espírito na subjetividade da igreja; nisso reside um perigo, uma vez que cada crente tendo o Espírito Santo pode enveredar pelo pecado da presunção, se colocando como “oráculo de Deus”, quando Deus não o colocou. Fato que não demorou acontecer. Foi por volta do ano 172 da nossa Era Cristã, que surgiu um movimento na Frigia, na Ásia Menor, como tentativa de se “resgatar” o governo do Espírito Santo na Igreja, uma vez que, este havia se tornado formal e tão somente humano, segundo concepções de Montano, fundador do movimento. Montano se colocou como o “oráculo de Deus” , como o próprio Espírito Santo para falar para a Igreja, assim como o Espírito falava aos apóstolos. Uma das faces do movimento era o “ascetismo” severo, capaz de se opor ao casamento e a prática de longos jejuns, como mortificação da “carne” e preparação à volta do Senhor, o qual aconteceria para implantar seu reino na Frigia, onde Montano teria um papel importante; uma outra característica tratava das mensagens proféticas do movimento, pronunciadas pelas seguidoras Prisca e Maximila; esta característica, comum ao movimento recebeu o nome de a “Nova Profecia” com o fim de preparar a Igreja para o encontro com Senhor na sua segunda vinda gloriosa. Os que aderiam ao movimento caminhavam nessa direção razão pela qual, seguiam muito rigorosamente as disciplinas que o movimento lhes impunha. A igreja reagiu a esse movimento condenando-o no Concílio de Constantinopla, em 381. Quando nos propomos a descrever muito resumidamente sobre esse tipo de movimento temos em vista, a questão da subjetividade da atuação do Espírito Santo na vida da Igreja. Por tudo o que já descrevemos aqui, concluímos, que o Espírito Santo é atualização de Deus no mundo, ou seja, é através do seu movimento, que experimentamos os conceitos sobre Deus; passamos a vivenciar uma teologia não somente de conceitos e tratados abstratos, mas uma “teologia da experiência”. Muitos movimentos têm surgido ao longo da história da igreja após o “montanismo” com a intenção de resgatar o Pentecostes de Atos 2; cabe à Igreja de Jesus “poder” discernir com sabedoria esses movimentos no sentido de não faze-la tropeçar em mais um embaraço; ao invés de ajudar a caminhada para o céu, poderá impedi-la. A Igreja de Sião entende que o Espírito Santo continua a realizar a obra de Deus na face da terra. Sem essa atuação a Igreja não seria possível como “organismo de Deus”, mas seria apenas um grupo social como tantos outros que existem na nossa sociedade. O Espírito Santo faz a diferença entre os demais, inclusive no que diz respeito ao seu estilo de governo. Deus fala aos nossos corações; nos traz visões e sonhos, mas o que de fato enfatizamos e entendemos como bandeira da Igreja de Sião é sobre a fala de Deus através dos 66 livros inspirados por Deus; este instrumento é uma garantia absoluta da autenticidade da fala de Deus, sem a mesclagem da subjetividade humana. Toda a experiência cristã, não pode ter um caráter tão somente individualista, mas deverá ser avaliada e nutrida pela comunidade igreja. Se essa experiência tem uma finalidade de promover o “Corpo de Cristo”, deverá ser acatada; o contrário deverá ser rejeitada. Não podemos ainda achar que, a obra do Espírito Santo se resume em apenas conduzir o homem a Cristo. O Espírito Santo é dinâmico; é o DOM de Deus para a Igreja, no sentido de torna-lo presente no coração humano; em vista disso nos capacitou através de suas habilidades, deu-nos os seus dons. Dizer que, essa manifestação era apenas para a igreja primitiva, é empobrecer a obra de Deus, é estagna-la. 

OS DONS ESPIRITUAIS. 

Ainda nos restam mais dois subtemas sobre o Espírito Santo, que merecem pela sua complexidade, uma atenção especial. Vamos abordar de modo mais específico a “teologia dos dons espirituais” e a “teologia do Pentecostes de Atos 2“. Estas duas teologias foram temas de debates entre os protestantes evangélicos, resultando em algumas divisões no cerne das igrejas. O Espírito Santo tem um ministério diversificado, mas essa riqueza de diversificação tem uma única finalidade: glorificar a Pessoa de Jesus; e isso baseando-nos no mesmo discurso de Jesus sobre o Espírito Santo, só é possível num contexto de igreja, quando Jesus fala a respeito da “videira”. Qualquer manifestação que não obedeça a essa finalidade, é meramente humana, ou algum “espírito de engano”. O apóstolo João já nos advertia disso: “Amados não creias a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo” – João 4:1. 


III. O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO. 

No decurso do ministério do Senhor Jesus não vemos por nenhum momento a descrição de um fato como foi “o derramamento do Espírito Santo” no dia de Pentecostes, conforme relato de Atos 2 , dando-nos assim a ideia de que, o “derramamento” do Espírito” ou “efusão” do Espírito, de acordo com Atos 2, foi um fato atípico que marcou o início do surgimento da Igreja com o fim de continuação à realização da obra redentora de Cristo. A “efusão” do Espírito Santo confirma o que temos esboçado até aqui, desde os relatos do A.T. – a obra de Deus no mundo, diferente de qualquer outro empreendimento não pode ser feita por via da capacidade intelectual ou física dos que abraçam faze-la, mas, por via dos recursos do próprio Deus. No Pentecostes finalmente isso ficou mais claro. Foi o próprio Jesus, quem ordenou aos discípulos, antes de sua ascensão aos céus, que estes, não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai. Jesus deixou claro que esta promessa se tratava do Espírito Santo do qual ele, mesmo já o havia dito, na sua pregação sobre o Consolador – Atos 1:4; João 14:16-17. O Senhor Jesus ao falar sobre esta promessa retoma o ministério de João Batista; enquanto este, havia batizado com água, agora chegou o momento dos discípulos serem “batizados” com o Espírito Santo. Muitos entendem que há pelo menos dois “batismos distintos” baseados nesse enunciado: O “batismo das águas” e o “batismo no Espírito Santo”. Há ainda os que afirmam a respeito de uma vida com Deus, que sem o “batismo no Espírito Santo”, não estará completa e denominam esta ação, de “segunda bênção”. Antes de nós definirmos nossa compreensão a respeito do “batismo no Espírito” segundo os textos bíblicos, vamos entender algo que julgo por deveras importante: 

a. A “experiência” da ação do Espírito Santo é fundamental para acontecer uma verdadeira conversão e o início da nova vida em Cristo – Foi Jesus quem falou a respeito do “novo nascimento” como algo fundamentalmente “operada” pelo Espírito Santo – João 3: 3 e 5. O apóstolo Paulo questionou os cristãos de Gálatas, se receberam o Espírito por obra da lei, ou por meio de terem ouvido com fé? Este mesmo Espírito, é o que testifica no nosso espírito que somos “filhos de Deus” e co-herdeiros de Cristo – Romanos 8:16. Numa outra carta, o apóstolo Paulo sistematiza a doutrina do Espírito Santo ao afirmar: “com o fim de sermos para o louvor da glória, nós, os que antes havíamos esperado em Cristo; no qual também vós, tendo ouvido a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, e tendo nele crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, para a redenção da possessão de Deus, para o louvor da sua glória” – Efésios 1.13-14. O texto nos diz o seguinte: 1) O crente foi feito para a glória de Deus; 2) A experiência da glória de Deus só acontece a partir de uma “escuta” – o “ouvir” a palavra da verdade – o evangelho; 3) Não basta ouvir, é preciso abrir o coração para crer; 4) Quando o crente abre o coração para crer, o Espírito Santo “confirma” com o seu selo (garantia). Paulo não define, se este “selo” do Espírito vem depois, num outro momento após a pessoa ter se decidido por Cristo. Mas tudo nos leva a crer que, quem “crer no evangelho da verdade” é selado pelo Espírito Santo com o fim de ser a manifestação da glória de Deus e ainda poder ser guardado para redenção. 

b. As primeiras conversões. Assim que Pedro terminou sua pregação no dia de Pentecostes, após o “derramamento do Espírito”, os ouvintes chegaram até ele e aos demais apóstolos e lhes fizeram esta pergunta: “Que faremos irmãos”? Ao que Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.” O texto nos mostra que, “os que receberam a palavra foram então batizados”, e “congregados”, segundo Atos 2:37-47. O texto não faz nenhuma menção, quanto uma “distinção obvia” entre conversão e batismo no Espírito Santo. O “dom” do Espírito Santo, ou “batismo no Espírito Santo” foi dado pelo menos para esses primeiros crentes, no ato da conversão, confirmado através do “batismo nas águas”. No entanto, não podemos, esquecer, outros textos de Atos: 

  • Simão fazia magia, e era admirado por todos; assim que ouviu a palavra, creu e foi logo batizado, mas não foi convertido verdadeiramente – o “espírito maligno” que operava nele, antes de ser “batizado”, continuou, sutilmente operando dentro dele – Atos 8.13. 
  • Os samaritanos receberam a Palavra de Deus, foram batizados nas águas, mas não receberam o Espírito Santo. Os apóstolos ao saberem disso foram até Samaria e lá oraram pelos novos convertidos e estes, segundo o texto receberam o Espírito Santo – Atos 8.15-16.
  • “Saulo”, mas tarde Paulo, pelo que, inferimos do texto sagrado, foi batizado nas águas e ficou cheio do Espírito Santo – Atos 9:17-18. 
  • Enquanto Pedro pregava na casa de Cornélio, os ouvintes receberam o Espírito Santo, segundo Atos 10:44, de tal modo, que o apóstolo os questionou: “Pode alguém porventura recusar a água para que não sejam batizados estes que também, como nós, receberam o Espírito Santo”? – Atos 10:47-48. 
  • Paulo quando chegou à cidade Éfeso perguntou aos novos crentes se já haviam recebido o Espírito Santo assim que creram, os quais responderam que nunca ouviram falar do Espírito Santo. Paulo então, perguntou em que batismo haviam se batizados; assim que disseram “no batismo de João”, Paulo explicou o que isso significava, em seguida “impôs as mãos” sobre eles, e estes receberam o Espírito Santo. 
Dos textos aqui citados, não podemos inferir uma “doutrina” bíblica, certos de que estes textos não nos dão base para isso; há casos em que o Espírito Santo não tinha sido derramado, mesmo os crentes já terem sido batizados; há casos, onde o Espírito Santo foi derramado na ocasião do batismo nas águas; pelo que concluímos que há, um movimento de atuação subjetivo e não objetivo. Para sermos coerentes com uma doutrina a respeito do “batismo no Espírito Santo” entendemos, que, os textos de Atos dos Apóstolos, têm o cuidado de narrar fatos – descrevendo a maneira pela qual a Igreja, foi dando os seus primeiros passos - e não sistematizar um ensino sobre o “batismo no Espírito Santo”. No entanto, os enunciados, acima citados, nos dão base para sustentar a tese da atuação do Espírito Santo, como “condição indispensável” para acontecer à Igreja de Jesus Cristo. Sem esta atuação, a Igreja se torna inviável. Esta atuação foi o instrumento de Deus para o Evangelho alcançar o mundo. No entanto, a Igreja, na medida em que ia se constituindo, como organização humana, foi se privando dessa atuação. As mudanças foram ocorrendo não só na questão do governo, mas no que diz respeito aos ensinos e práticas litúrgicas da Igreja. O batismo, antes ministrado aos adultos, passou a ser ministrado às crianças; estas quando adolescentes ou adultas precisavam “confirmar” esse batismo, quando então “recebiam” o Espírito Santo. Entendia-se que o batismo inseria o homem à graça divina, razão pela qual, às crianças também precisavam ser inseridas a essa graça e à comunidade de Cristo – a Igreja. Esta prática não foi muito bem definida na Reforma Protestante, Calvino, por exemplo, quanto à maneira do batismo dizia não haver importância quanto à prática, ao rito, poderia ser por imersão ou aspersão, de acordo como cada igreja achasse conveniente (*). Zwínglio interpretava o batismo de criança como uma consagração das crianças feita pelos pais e foi baseado no pensamento de Zwínglio, que Wesley irá justificar a permanência do batismo de criança. Talvez você esteja se perguntado, por que estamos descrevendo isso? Estou certo de uma razão óbvia que vai justificar a interpretação “inadequada” ao batismo no Espírito Santo a partir do século passado. A Reforma Protestante (1517-1648) foi um grande salto na história da igreja no sentido de resgatar o pensamento principal do seu fundador: o Ato Redentor de Jesus, como único meio de salvação – Romanos 3:23-24. Houve, sem dúvida uma Reforma estrutural no que diz respeito à constituição da igreja, a partir daí. Mas muitas outras coisas precisavam ser resgatadas; dentre essas, uma vida de experiência com Deus. Os cultos das igrejas da Reforma eram muitos parecidos com os cultos da Igreja Romana – expressava um ato litúrgico, sem a interatividade e espontaneidade da subjetividade do adorador. Foi, portanto, a partir de 1901, em Kansas, nos EUA, sob a liderança de Charles Fox Parham, que começou uma outra reforma, desta vez “carismática”, no sentido de se buscar o Pentecostes de Atos 2. Este movimento tinha uma característica: a busca do batismo do Espírito Santo com a evidência da oração em línguas; sem esta evidência não havia batismo, fato que se tornou em doutrina entre os pentecostais, como ficaram conhecidos. Depois de 1906, o pentecostalismo se espalhou por todo os EUA, por conta de um reavivamento ocorrido numa igreja Metodista, na rua Azusa em Los Angeles. Foi o Movimento da Rua Azusa, liderado por William Seymour que lançou o movimento pentecostal para o mundo. Foi nesse contexto que a teologia do batismo no Espírito Santo, que o denominou de “segunda bênção” , foi ficando cada vez mais intensa no cerne das igrejas.  Acontecerem por conta disso, muitas divisões; pois muitos peregrinavam até essa famosa rua para constatar os fenômenos que ali ocorriam e voltavam “embebidos do Espírito” . Este fato nos dá conta, que a ideia do “batismo do Espírito” do ponto de vista histórico, é recente. O termo “segunda bênção” acompanhada da evidência da glossolalia, faz certo sentido se considerarmos, a vida da igreja, até o século que o movimento criou forma. A igreja litúrgica, na visão do “movimento” tinha alcançado uma reforma estrutural quanto à salvação do homem; mas quanto a uma “vivência prática” dessa verdade, a igreja estava “aquém” ainda. 

A INTERPRETAÇÃO DA IGREJA DE SIÃO 

A compreensão sobre o “batismo no Espírito Santo” na Igreja de Sião, está basicamente estabelecida no item (a) dos enunciados acima. O apóstolo Paulo, sistematizador da doutrina não faz nenhuma distinção óbvia a respeito do batismo do Espírito Santo, como separado da conversão e nem tão pouco menciona sobre a glossolalia como sendo sinal evidente do “batismo”. A glossolalia é mencionada na Bíblia. Contudo afirma-la como garantia da plenitude do Espírito foi ideia da “Rua Azusa”. O apóstolo Paulo, longe de afirmar, o “batismo no Espírito Santo” como um ato “isolado”; uma experiência fenomenológica nos garante que toda a comunidade foi batizada no Espírito Santo – I Cor. 12.13. Portanto, a experiência no Espírito Santo é a inserção e envolvimento na Igreja de Cristo. 

a. A teologia da Igreja de Sião tem o “cuidado” em afirmar que o “batismo no Espírito” Santo acontece no momento do “batismo das águas”; uma vez que nem todos os que passam pelas águas estão convertidos; mas a teologia “sionista” define que não há conversão; não há inserção à igreja; não há interesse pelas coisas de Deus, não há capacitação para a obra de Deus, sem uma vida “mergulhada no Espírito”. 

b. Jesus não mencionou nas suas falas a respeito do “batismo no Espírito” como era mencionado na Rua Azusa. Contudo afirmou a respeito do Espírito Santo: a) O Espírito Santo sacia a sede da existência humana – João 4:14; b) O Espírito Santo é o Consolador que estará sempre conosco; c) Ele não é algo inatingível; ele habita dentro de nós – João 14:17; o Espírito Santo é Cristo em nós – João 14:18 – Foi durante a Idade Média que a igreja romana pregou a ideia de um Deus muito distante do homem; instituiu assim “mediadores” que a própria igreja os canonizou com os títulos de “santos”; isso trouxe um prejuízo espiritual para a humanidade – afastando a ideia de um Deus Imanente e insistindo na idéia de um Deus transcendente. A bíblia nos ensina que através do Espírito Santo temos a presença de Deus dentro de nós. O Espírito Santo não é uma força; ou uma energia dentro de nós – mas sim, a pessoa de Deus na nossa realidade humana; não foi-nos dado ao acaso; ou para tão somente marcar uma presença; foi nos dado para a realização da obra de Deus através de nós humanos; c) O Espírito Santo nos faz lembrar os ensinos de Jesus – João 14:26; o Espírito Santo nos ajuda a dar testemunho de Jesus – João 15:26; o Espírito Santo nos guia a toda a verdade – João 16:13; o Espírito Santo nos inculca um novo estilo de vida – João 16:8; nos faz adoradores – João 16:14. Esta atuação não pode ser colocada como “segunda bênção”, mas como única e principal para descrever uma vida segundo o Espírito. 

c. A partir da “entrega do crente” ao Senhor Jesus, este já estará ingressando na DIMENSÃO do mover de Deus, da obra de Deus inaugurada por Jesus que, no dia do Pentecostes se configurou no BATISMO NO ESPÍRITO SANTO. O “novo nascimento” é, “didaticamente” aceito, como o “estágio inicial” de uma vida plena no Espírito. 

d. A inserção ao Corpo de Cristo – I Cor. 12.13 é o sinal do batismo no Espírito Santo, uma vez que já aconteceu o “novo nascimento” – ou seja, se de fato, este “novo nascimento” for expressão de “arrependimento”; se de fato houve uma verdadeira “conversão”, capaz de provocar esse sentimento. Nessa linha de raciocínio, porém, precisamos aqui considerar duas coisas: 1) A atuação do Espírito Santo é dinâmica; é vida, isso, já vimos em vários textos, um deles foi sobre as “águas purificadoras” do Ezequiel 47:1-12. Uma vida espiritual estagnada à prática de “atos litúrgicas” tende ao fracasso; razão pela qual a Igreja de Sião estará sempre sensível a Renovação Espiritual; a um novo “batismo no Espírito” não como algo isolado do contexto da igreja; mas algo constante e permanente; 2) Nem todos os que estão na igreja – como participante do rol de membros experimentaram o “novo nascimento” a estes se deve invocar o “batismo no Espírito” sempre; pois crente sem o Espírito Santo, participando da igreja só causarão dano a obra de Deus, pois esta é espiritual e ele, sem o Espírito continua na vida carnal. 

e. A oração em línguas. Muitas pessoas atribuem a oração em línguas ao “batismo no Espírito Santo” por terem bebido na fonte da Rua Azusa e não na fonte da Bíblia; outros negam esta manifestação. As Sagradas Escrituras, no discurso em que o Senhor trata do Espírito Santo não mencionou o “dom de línguas” como evidência do Espírito. Mas, as Escrituras não menospreza esse dom. Dizer que não existe, ou dizer que é apenas uma “heteroglassia” é desconsiderar o texto do apóstolo Paulo quando afirmou o seguinte: ”Porque o que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus, pois ninguém o entende; porque em espírito fala mistérios” – I Cor. 14:2. O “dom de línguas” descrito em I Cor. 14:4 evidentemente é diferente da mesma manifestação em Atos 2. Contudo não podemos ir além do que as Escrituras nos fornecem! Podemos orar em línguas, tal qual como nos ensina I Cor. 14:4, sim! No entanto tal manifestação assim como obedeceu a um critério no tempo do Apóstolo Paulo, do mesmo modo, sobretudo hoje, quando sabemos que vivemos o período de apostasia, a igreja deverá ser criteriosa no reconhecimento de tal manifestação. 

A obra de Deus através da igreja na terra não pode ficar na esfera do “saber” e dos tratados teológicos tão somente. O conhecimento sobre Deus é a base de uma vida solidificada e arraigada; contudo muitas pessoas se encheram do “saber sobre Deus” e não se deram conta de transformar este conhecimento num relacionamento com Deus. Esta “dialética” entre o “saber” e a experiência da realidade de Deus em nós, é obra do Espírito Santo. Uma igreja que se fecha a esta ação estará fadada à estagnação. Graças aos “movimentos pentecostais” do século passado a igreja tomou um novo fôlego, resgatando um “novo pentecostes”. Muitos criticaram esses movimentos, como fazem até hoje; na verdade detectamos erros teológicos; outros ainda permanecem na inércia do seu ponto de vista: condenam qualquer manifestação com teor de “pentecostalismo”, como por exemplo: a oração unânime da igreja; o levantar as mãos, quando se canta; a expressão no momento das reuniões de culto, como “glória a Deus!”; “Aleluia!”; a oração em línguas; a dança; os corinhos mais animados, etc. É óbvio, que a igreja, como guardiã da verdade sobre Deus não pode omitir-se no discernimento de filtrar o que é de fato é obra do Espírito de uma ação meramente emocional e humana. Este é o papel da igreja. Para não se contrapor a nenhuma posição, quer seja, uma posição mais ortodoxa que nega o mover do Espírito, tal qual como no tempo dos apóstolos e nem àqueles que denominam esta manifestação como “segunda bênção” seguida do “orar em línguas”, usamos a expressão “Renovação do Espírito”, pois muitos o recebem no dia de sua confissão perante Cristo, mas não se lançam ao segundo passo: “mergulhar-se na dimensão do Espírito”. O Espírito Santo é a promessa do Pai para os últimos dias. Se nossos filhos não profetizam; se nossos anciãos não sonham; se nossos jovens não têm visões, a pergunta que fazemos é o que estamos fazendo aqui? A comunidade toda foi batizada no Espírito Santo, segundo a teologia paulina. Será que temos ideia do que isso significa? Se soubéssemos, já tínhamos contagiado o mundo todo! Mas lamentamos pois, nem todos que fazem parte da comunidade, nem ao menos experimentaram as “águas purificadoras” do Espírito pelos “tornozelos”. Por conta disso a igreja de Sião deverá permanecer em “Jerusalém” – a comunhão com Deus para buscar sempre um renovo, um novo momento de renovação e “batismo no Espírito Santo” . 

IV. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO. 

Os dons do Espírito Santo nos dão conta da obra de Deus, como uma obra estritamente espiritual, e os recursos usados para sua realização não são apenas os elementos materiais que dispomos, mas os recursos espirituais dados pelo próprio Deus. Estes dons destacam ainda a diversidade da atuação do Espírito, sob o princípio da unidade, da convergência. A maneira da distribuição dos dons me reporta a um texto do livro de Éster, quando o rei Assuero deu um banquete a todos os seus príncipes e servos para mostrar aos outros povos a maravilhosa riqueza do seu reino. Aos convidados foi dado uma atenção muito particular descrita nestas palavras: “Dava-se de beber em copos de ouro, os quais eram diferentes uns dos outros; e havia vinho real em abundância, segundo a generosidade do rei” – Éster 1:7. Os “dons do Espírito” são como os copos de ouro oferecidos por Assuero – diferentes uns dos outros. A “unção” de Deus que diferencia a capacidade de Deus da habilidade humana, é como o “vinho em abundância”. A Igreja do Senhor Jesus não deu conta da riqueza dos “dons espirituais”. No lugar desses, substitui pelos “dons naturais dos homens”. Fizemos o mesmo o que fez a rainha Vasti, que não só recusou a ir ao banquete do rei Assuero, quando este iria apresentar sua beleza aos convidados, como organizou outro banquete e convidou as amigas – Éster 1:9-12. Podemos classificar os dons espirituais em duas ordens no que diz respeito a sua a manifestação: 1) Ordem subjetiva. Os dons espirituais são manifestados nas pessoas e não são estáticos uma vez que os textos sagrados não os definem; por exemplo: O que o Apóstolo Paulo quer dizer com o dom de ciência? O que Paulo quer dizer com o dom de apóstolo descrito na carta aos Efésios? Em razão dessa ausência de nomeação, muitos foram os danos causados no uso dos dons. Por outro lado estes dons estão também numa outra ordem. 2) Ordem do objetivo. Esta segunda ordem nos evita o mau uso dos dons; embora sejam manifestados na subjetividade dos crentes, estes todos visam algo comum – a unidade e edificação da Igreja de Cristo; o contrário será meramente a expressão da primeira ordem a qual deverá ser rejeitada. A objetividade dos dons nos permite a uma nomeação dos mesmos a partir do contexto dos demais textos sagrados. Por isso, nossa teologia irá assim defini-los e entende-los “didaticamente” e não no rigor de uma ortodoxia. Isto quer dizer que os dons, são aceitos pela Igreja de Sião tal como se nomeia nas Sagradas Escrituras, especialmente nas cartas do Apóstolo Paulo. Contudo alguns são “contextualizados” na sua aplicação em face da realidade em que a igreja está inserida. 

OS DONS DE CORINTO. O Apóstolo Paulo começa sistematizar os dons espirituais nas duas ordens acima segundo I Cor. 12:4-6. 

Ordem Subjetiva: diz respeito à diversidade 
Ordem Objetiva: diz respeito ao Espírito 

1) Dons (capacitação) 
2) Ministérios (serviço) 
3) Operações (Diversos modos de ação) 

É o mesmo Espírito atuando diferentemente em todos os crentes. 
Relação dos dons espirituais, segundo o mesmo texto: 

1. Palavra de Sabedoria. O termo é comum em duas traduções bíblicas: VERSÃO REVISADA E BÍBLIA DE JERUSALÉM. Este “dom” segundo os “pais da igreja” diz respeito à capacidade de expor e explicar as verdades profundas “das coisas de Deus”. 

2. Palavra da ciência. O termo também encontrado nas duas traduções, que segundo os pais da igreja, diz respeito à exposição e explicação das verdades elementares da fé cristã. 

3. O dom da fé. Este dom diz respeito a uma fé de caráter muito superior a fé revelada que adquirimos ao ouvir a Palavra de Deus. 

4. Dom de cura. Todo o crente recebeu autoridade do Senhor Jesus, a fim de que em seu Nome orasse pelos enfermos para serem curados, e que expulsasse os demônios que oprimem as pessoas – Marcos 16.15-18 – Sabemos que a medicina também é um “dom” de Deus para a cura das doenças. No entanto, a obra de Deus, de natureza espiritual lida com homens oprimidos e enfermos pelo Diabo; a este tipo de manifestação, a medicina não pode valer, mas tão somente o Nome de Jesus para desatar as opressões e doenças como laços do inimigo. 

5. Dom de milagres. Novamente estamos diante de um “dom” que confirma a natureza da obra de Deus em face do mundo. Muitas são as dificuldades que os homens se encontram no mundo; não só doenças e opressões, bem como situações embaraçosas em que nem sempre os recursos humanos são capazes de dar conta. A obra de Deus, portanto, compreende libertação em todas as áreas e aspectos da vida humana, aonde o “dom de milagre” pode muito na possibilidade do equilíbrio e “bem-estar” desses aspectos. 

6. Dom de profecia. A profecia aqui mencionada como “dom” de Deus não tem o caráter de previsão do futuro; mesmo porque temos a Palavra de Deus revelada que norteia um mapa para nossa vida. A profecia se limita apenas naquilo que o apóstolo Paulo determinou: edificação, exortação e consolação – I Cor. 14:3. Este “dom” quando exercitado difere da pregação; enquanto esta é produto de estudos bíblicos já existentes e até da nossa teologia, a profecia por outro lado é uma revelação espontânea da Palavra. 

7. Dom de discernimento. As manifestações dos dons, não podem ser mensuradas basicamente a luz da razão humana, pois tratam de manifestações sobrenaturais. No que diz respeito a essas manifestações, porém, não podemos, por outro lado, perder a crítica, e assim digerirmos qualquer manifestação, o que não seria coerente; e nem tão pouco “criticarmos”, para não cairmos no pecado de estarmos criticando a Deus. Este impasse só é resolvido a luz do “dom” que Deus nos capacita para determinarmos a origem da “manifestação”: vêm de Deus, da natureza, do Maligno? No momento em que escrevo estas linhas vive uma cena que me causou certo espanto. Estive numa igreja, aonde o Pastor mencionou sobre uma pessoa que estava presente na assembleia e que não iria mencionar o seu nome; tratava-se de uma mulher que se colocava como que se fosse a mulher ou pretende mulher do Pastor, (o pastor pelo que entendi era solteiro); esta vinha manifestando cenas de ciúmes em relação a outras irmãs da congregação; o pastor exortou que essa mulher não deveria orar por ninguém na igreja e que a mesma, a partir daquele momento estava excluída da membresia da igreja. Ao fazer isso, o pastor se dirigiu a uma pessoa da Assembleia e disse: “É de você mesma que estou falando!” A mulher se levantou e começou a agredi-lo, chamando-o de mentiroso. Nisso o pastor solicitou aos seus seguranças que a colocassem para fora do recinto do culto, e pediu que a igreja (com 500 pessoas mais ou menos) ficasse de pé e com palavras de ordem expulsassem o espírito que ali operava na mulher. O pastor usou a expressão: “Eu como ungido de Deus, coloco esta mulher nas mãos de Deus e a expulso da congregação”. A mulher passou perto de mim, segurada pelos seguranças, com um semblante desnorteado. Cabe aqui elucidar a importância do “dom” do discernimento diante desse fato constrangedor: A atitude do pastor foi de Deus? A atitude da mulher era de uma pessoa possessa ou de um instinto natural de defesa ante a exposição de sua pessoa em público? O dom do discernimento nos ajuda a separar a verdade da mentira; a manifestação de Deus de uma manifestação enganosa. 

8. Dom de variedade de línguas. O “dom” das línguas, no contexto dessa narrativa não corresponde as “línguas” falada em Atos 2. O dom mencionado em Corinto diz respeito à glossolalia, nisso concordam os “pais da igreja”; tratava-se de um dom cuja expressão era ininteligível, portanto não edificava a assembleia cristã – I Cor. 14:2 e 4; eram pois expressões extáticas de glorificação a Deus – I Cor. 14:2 - e que, quando pronunciadas na Assembleia mereciam a interpretação. 

9. Dom de interpretação de línguas - O “dom” capaz de dar sentido as expressões extáticas de glorificação a Deus. O Apóstolo Paulo nos exorta quanto ao dom de línguas, no sentido de que aquele que a exercita que ore para que alguém a interprete – I Cor. 14.12-14. 

Muitas “teologias” negam veementemente estes dois últimos dons; dizem até que se tratava de línguas no sentido de idiomas estrangeiros, baseado até mesmo nas palavras do Apóstolo Paulo em I Cor. 14.10; 18-19. A Igreja de um modo geral acredita nesses dons como manifestações de Deus, mas nossa posição é paulina – devemos buscar com zelo o dom da profecia e não podemos impedir o “falar em línguas” – I Cor. 14.40. 

OS DONS SEGUNDO O TEXTO DE ROMANOS. 

A manifestação dos dons do Espírito Santo na comunidade cristã, é a manifestação visível da presença do Espírito Santo na Igreja; sem isso a igreja ficaria empobrecida, limitada somente numa estrutura social, como tantas outras. Os dons espirituais diferem a igreja de outros organismos humanos. Temos que reconhecer ainda que estes dons, quando, não bem orientados trazem prejuízos à igreja e não benefícios. Nunca podemos esquecer que estes dons, foram dados para o proveito comum da comunidade e não para o benefício pessoal de quem quer que seja. Sabemos que estes dons devem ser aceitos tais como foram conceituados. No entanto seria interessante, a igreja, como intérprete do pensamento de Deus, poder evidentemente contextualizá-los. Assim o fazemos a partir do texto de Romanos 12:4-8 

Dons – BJ - Contextualização 
Dom da Profecia - A profecia do Novo Testamento difere da do A.T. – Lucas 16:16. No entanto o Senhor capacita a Igreja com este “dom”, uma vez que diz respeito ao Kerígma da palavra. Trata da inspiração de Deus sobre a compreensão dos textos bíblicos. 

Dom de Serviço - Este dom pode ser aplicado nas atividades de portaria; da cantina; de eventos; de manutenção e reparos. 

Dom de Ensino - Este dom pode ser aplicado a todas as atividades que envolvam ensino: professores da Escola Dominical, por exemplo. 

Dom de exortação - Segundo o nosso dicionário, “exortar” também, quer dizer aconselhar. Portanto este dom pode ser aplicado nas atividades voltadas para a área de aconselhamento: casais, adolescentes, cura interior. 

Dom de amor - Este dom, segundo a tradução da BJ diz respeito àquele que “distribui seus bens”. Pode ser aplicado às atividades voltadas para visitação, evangelismo, distribuição de alimentos, arrecadação de fundos para a igreja, etc. 

Dom de Presidir - Este dom pode ser aplicado a toda atividade que exige uma capacidade para liderar. Um coordenador que não sabe presidir terá dificuldade em liderar seu trabalho ante aos seus liderados. 

Dom de Misericórdia - Este dom pode ser aplicado também a todas as atividades que envolvam: visitas; evangelismo; socorro; cura interior; 3a Idade; comportamentos adictos, etc. 

NORMAS PARA O EXERCÍCIO DOS DONS ESPIRITUAIS 

Os “dons do Espírito Santo” não foram dados a igreja sem algum propósito, ao contrário, a manifestação dos mesmos, é Deus atuando e agindo, e sempre à luz de um propósito. Como “recursos” de Deus para o funcionamento de sua Igreja, o Senhor teve o “cuidado” de estabelecer uma norma de funcionamento para sua evidência, uma vez que, como já dissemos num outro momento, estes “dons” se presentificam na experiência humana; na emoção. Portanto para o seu devido uso, estes dons devem obedecer a um “mapa” que norteie os seguintes critérios: 

a. O critério da sabedoria – I Cor. 12:1. O Senhor nos exorta que devemos saber sobre os dons e suas manifestações, inclusive no que diz respeito ao uso do “dom de línguas” – I Cor. 14.20. 

b. O critério da proporcionalidade – I Cor. 14:5-8. Não podemos enfatizar um determinado dom em detrimento de outros. Parecia que o “dom de línguas” era mais importante que os demais, na Igreja de Corinto. 

c. O critério da edificação – I Cor. 14.12. Os dons têm a finalidade de edificar a Igreja de Jesus Cristo. Rejeitamos qualquer “manifestação” que diz ser do Espírito, mas que comprometa a unidade da igreja. 

d. O critério da sabedoria: Paulo nos exorta quanto ao julgamento do uso do dom “dom de línguas” no sentido de sermos sábios, o mesmo estou certo que deverá ser empregado no uso e julgamento dos demais dons – I Cor. 14.20. 

e. Domínio dos dons – Segundo o verso 32 do capítulo 14 de I Cor. Podemos concluir que a manifestação dos dons não ultrapassa o limite da nossa consciência; ou seja, temos absolutamente controle sobre as manifestações. 

f. O critério da ordem: “Que fazer, pois, irmãos? Quando estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação, falar em línguas o interpretá-las; mas que tudo se faça para a edificação... Mas tudo se faça com decoro e com ordem” – I Cor. 14.26 e 40. O apóstolo orienta a Igreja quanto ao seu procedimento litúrgico; não havia um padrão uniforme de culto. Pelo visto nas reuniões poderiam ter todas as manifestações do Espírito desde que, fosse feito na mais absoluta ordem. Isso é um preceito bíblico. Este verso deu margem entre os “pentecostais” quanto ao uso da expressão: “revelação” no sentido do Espírito Santo “usar” seus “profetas” como “oráculos divinos” para informar à igreja de seus “recados”. A Bíblia de Jerusalém baseada na explicação dos “pais da igreja” entende o texto como obscuro; a Bíblia Shedd, entende a revelação, aqui mencionada, como o “dom de profecia”. A teologia entende que o “dom de profecia” é um “dom” de revelar verdades profundas das Escrituras vinda diretamente de Deus. Portanto, “revelação” tais como: “Deus me manda te dizer que você ia ter uma doença no pé, mas ele mandou o anjo para te livrar”; “Deus manda te dizer que tem uma pessoa na sua vida que tem muita inveja de você e você sabe quem é essa pessoa; Deus manda que você perdoe essa pessoa”; “Deus manda te dizer que dentro de três meses você vai fazer uma viagem para fora do país; pode ir porque isso vem de Deus” etc. essas manifestações devem ser vistas com critério! Deus continua falando conosco sim! Mas o inimigo também atua no meio da igreja para enganar os crentes e assim estes, venham também perder o céu. Esse tipo de manifestação já trouxe muito prejuízo para a igreja, tais como: expôs pessoas publicamente; ofendeu moralmente pastores e famílias; ministérios arruinados, destruídos e divididos, por conta de algum suposto irmão ou irmã que se colocou no “lugar de oráculo de Deus”, quando Deus não mandou que falasse. 

No dia de Pentecostes, aconteceu um grande momento na história da salvação, quando o Senhor derramou do seu Espírito sobre os apóstolos, dando início assim, a obra de Deus na face da terra, através do nascimento da Igreja. O Pentecostes nos traz a mensagem de que a realização desta grande obra, não poderia ser feita com a força intelectual e habilidade humana, mas deveria ser feito pela capacitação do Espírito Santo dado aos homens. Esta é a grande diferença da obra da Igreja em relação a outros empreendimentos humanos. A obra de Deus é de natureza espiritual e os meios para acontece-la deverão ser feitos por meios espirituais: oração, fé e dons do Espírito. A Promessa do Espírito Santo feita pelo Senhor Jesus finalmente se cumpriu no dia de Pentecostes. Portanto, o “batismo de fogo”, ou “batismo do Espírito Santo” prometido pelo Senhor em Atos 1:5 não é um fato isolado, mas sim uma “ação completa da realização da obra do Espírito” na vida da Igreja. Esta obra compreende: 1) O novo nascimento: o crente a partir do momento em que, com sinceridade abre o coração para o Senhor, estará passando por um processo de mudança de atitude, de caráter, tornando-se numa “nova criatura” como diz o livro de II Cor. 5.17. Nessa abertura o crente estará diante de uma nova consciência, que o fará diferente em relação às atitudes e comportamentos do mundo; 2) Um segundo momento – o novo crente ingressa na família de Deus e por ela se empenha. Na igreja, o novo crente estará aprendendo a ter uma vida com Deus; nesta se vive uma vida de adoração e intimidade com Deus; nela lidamos com os demais irmãos, aonde vamos construindo uma vida de comunhão em meio às diferenças individuais que nos são inerentes; 3) O Espírito Santo nos capacita com seus dons para realizarmos a obra de Deus na face da terra – o crente tem a compreensão de que as atividades da igreja não têm um caráter social, mas, sobretudo um caráter espiritual. Portanto sua realização requer antes de qualquer empenho uma vida de intimidade com Deus, sem esta comunhão, nossos esforços serão vãos. Podemos assim estabelecer: o Batismo do Espírito Santo compreende: 

a) Novo nascimento – caráter de Cristo! 
b) Inserção à Igreja – Uma vida com Cristo: adoração e comunhão 
c) Capacitação para realização à obra de Deus – trabalhando para Cristo. 

Muitos crentes, que fazem parte da igreja hoje, nunca experimentaram uma vida no Espírito; nem ao menos se converteram ainda. A estes se pede ao Senhor que os venha “batizar com o seu Espírito”. A estes esperamos o que aconteceu na casa de Cornélio – este era um homem bom, dava esmolas aos pobres; sensível, mas não tinha ainda o Senhor Jesus. No momento em que Pedro começou a pregar, o Espírito Santo desceu sobre sua família e todos foram cheios do Espírito Santo – Atos 10. Aos que já vivenciam a tríplice dimensão desse batismo: Novo nascimento, inserção à igreja e capacitação para a obra de Deus, nós pedimos ao Senhor uma “renovação constante”. Quando oramos pedindo o “batismo no Espírito Santo” - o fazemos dentro dessa expectativa: muitos nem ao menos tem o Senhor da Bíblia, outras já tem o Senhor mais precisam de um “renovo”. É através do Espírito Santo que experimentamos os conceitos sobre Deus; aqueles conceitos que aprendemos na Escola Dominical. Se não houver esse renovo podemos cair no marasmo de uma vida espiritual de “conceitos” sem a essência de fazer a obra d e Deus com espontaneidade e alegria. 
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