terça-feira, 4 de setembro de 2012

"A Unidade No Meio Da Adversidade"

Uma reflexão teológica sobre o maior desafio da igreja no século XXI - Manter a unidade no meio da adversidade. 

"Podemos começar nossa reflexão tendo como ponto de partida um verso tão pequeno, mas profundo. Quando Jesus se despediu dos seus discípulos, pois estava na iminência de ir para o céu, disse: 'ficai em Jerusalém'. Ficar até que o Espírito Santo descesse sobre os discípulos. Parece não dizer nada num primeiro momento, mas diz tudo, pois, pelo visto, Jesus está estabelecendo uma condição. Uma condição que discursou no decurso de sua caminhada. Jesus numa certa ocasião orou a Deus e pediu que assim como ele e o Pai eram um, do mesmo modo que os discípulos também fossem um - João 17,21. Portanto, 'ficar em Jerusalém' inaugura o maior desafio da igreja em todos os tempos, 'que todos sejam um'. Mas, como manter a unidade no meio da adversidade? Podemos pensar que, o derramamento do Espírito estava sob a condição da unidade, o contrário, Jesus teria dito que cada um fosse para sua casa, e lá o Espírito Santo desceria de modo individual, mas, não foi assim. A unidade diferente da uniformidade é a base da estrutura. Quando Paulo compara o a igreja ao corpo humano, ele estava pensando na unidade. O corpo humano, com os mais diferentes membros, formam um todo. Cada membro dentro deste corpo exerce uma função específica, que somando aos demais constituem o que chamamos de totalidade. 

Teologia da unidade. Um dos problemas que Paulo teve que enfrentar na igreja de Corinto foi a questão da unidade. Havia divisão na igreja, e pelo visto, estava comprometendo a unidade. Os crentes estavam criando partidos dentro da igreja. Uns eram adeptos de Paulo e outros de Apolo. (I Cor. 3,3-4). Paulo formula uma teologia quando diz que um planta, outro rega, e Deus dá o crescimento. Há uma harmonia tal como numa orquestra. Deus é a 'melodia'. Sobre a unidade, o apóstolo exorta os cristãos de Filipo que todos tenham o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus. Mas, que sentimento? Um sentimento de despojamento. Ninguém deveria se julgar superior ao outro. Ao fazê-lo a unidade perderia sua essência, pois num corpo não pode existir um membro mais útil que outro. Sim, claro, no corpo humano existem alguns órgãos vitais, mas em termos de igualdade e funcionalidade todos os membros são iguais. Na igreja isso não é diferente. A unidade é uma face do plano de Deus para o homem. Ao começar pela criação, lá verificamos o propósito do casamento... Homem e mulher formam um todo, uma 'única carne'. O adversário Satanás vai na contra mão deste propósito, sua índole baseada na interpretação dos pais da igreja que dão ao texto de Isaías 14,13 'E tu dizias no teu coração: eu subirei ao céu, acima das estrelas do céu exaltarei o meu trono'. Na continuação, Satanás caiu na presunção de querer ser igual a Deus. No livro do Apocalipse 12, 9 a Bíblia diz que quando esta estrela caiu, levou consigo os seu anjos.  Satanás se rebelou contra Deus, rompe com a harmonia da criação. Leva o primeiro casal a se emanciparem de  Deus. O nome deste ser no grego, etimologicamente, significa 'diabo aquele que divide'. No Salmo 133, podemos observar que o salmista faz uma comparação entre comunhão e unção. Como é bom e quão suave é que os irmãos vivessem em união, é como o óleo que desce pelas vestes de Arão. Eu gosto deste salmo, pois, ele confirma a minha tese. O que mais se aproxima da unção de Deus na terra não são os grandes feitos, ou realizações, ou grandes concentrações. O que mais se aproxima da unção de Deus na terra, é a nossa comunhão. Portanto, esta, sempre foi e sempre será a expressão da presença de Deus na terra. Não é pois, de se estranhar que, a unidade vai ser sempre o alvo para o diabo atacar. Ao atacar a unidade, ele julga estar atacando a presença de Deus na terra. Toda a divisão tem consequências profundas, tais como mágoas, ressentimentos, dores, feridas... Ninguém sai totalmente ileso quando unidade é entravada... A igreja passa pela primeira prova quanto a manutenção da unidade. Antes é bom lembrarmos sobre o perfil da igreja após o Pentecostes. Eis o exemplo de unidade. O texto parece um tanto romântico. Todos tinham um só coração, todos perseveravam na doutrina dos apóstolos, não havia necessitado entre eles.  Eu acredito que o propósito de Lucas ao escrever isso, era mostrar a essência que permeiava essa prática. E a essência é a unidade. No Atos dos Apóstolos observamos o primeiro conflito que, se não fosse contido, teria a igreja sofrido a primeira divisão. Mas, para tratar desse assunto a igreja de Jerusalém se uniu, os líderes se reuniram e chegaram a um consenso a respeito dos gentios. O parecer foi acatado. (conferir Atos 15). No decurso da história da igreja, vemos vários momentos em que a igreja sofreu o baque. Muitos problemas de ordem teológica. Além das perseguições externas, havia os inimigos internos da igreja, suas ideias eram tão influentes que se tornaram em movimento, ou escola: 
1. Gnosticismo. 
2. Maniqueísmo.
3. Montanismo.
4. Arianismo.
Seria importante falar de cada um deles. Mas, o importante na leitura disso, é o fato de que, a igreja não era ainda a 'igreja católica romana'. Estou falando de igreja cristã. Para dissipar os ensinos que destoavam a mensagem do evangelho, a igreja se organizou em Concílios. Os Concílios tinham o poder de minimizar quando não dissipar e considerar herege os que acreditavam naquilo que o Concílio dizia ser falso. Com a suposta 'conversão' de Constantino a igreja radicaliza e no lugar da unidade passa adotar a uniformidade. A diferença é que a unidade preserva a diferença, sua ênfase é a soma das partes para formar um todo. Na uniformidade não há variedade. Perde-se a identidade. Isso, de algum modo, foi bom, pois assim a igreja entendeu como único meio para preservar a igreja dos falsos ensinos, e formar um corpo coeso. Com a Reforma Protestante, o cristianismo ocidental sofre sua maior divisão. Protestante de um lado e católicos romanos de outro. O protestantismo nasce com o método de interpretação da Bíblia, 'solo scriptura'  ou seja, a Bíblia se explica por si mesma, logo ela é a única autoridade. Com essa visão o ramo protestante se ramificou muito, e até hoje lidamos com essa diversidade. Houve o que costumo chamar de 'democratização evangélica'. É bom? Sim, mas temos um grande desafio pelo frente. Como manter a unidade da igreja no meio da riqueza da adversidade humana? Quem julgar que a melhor saída é a cisão por conta da diferença pode estar caindo no pecado da presunção ou no ostracismo religioso. O Espírito Santo desceu, mas desceu quando os primeiros cristãos se colocaram em unidade, orando num mesmo lugar. Hoje temos as convenções nos mais diferentes credos. Estas convenções são importantes e são de Deus, pois, é por meio dela que aquilo que Deus mais queria, a unidade seja mantida. Eu acredito que as diferenças que nos 'separam' é a maior dádiva do Criador para exercitamos:
1. Humildade.
2. Perdão.
3. Graça.
4. A suportabilidade.
5. A família. Na unidade  celebramos a 'sagrada família'. Composta de homens e mulheres dispostos a continuarem se amando, mesmo que as diferenças possam agredir nossa intelectualidade.

Oremos...